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Minha terra tem pinheiros do Paraná

Written By Ana Claudia Gomes on terça-feira, 22 de julho de 2014 | 07:12



Minha terra vende pinhões cozidos à beira das estradas, assim como nas Minas temos o pão-de-queijo com lingüiça. Os pinhões mais deliciosos do mundo.
Eu nasci em Castro, no Paraná. Dizia um dos meus grandes amores que Castro fica atrás do mapa. Isto é, se você o procurar num mapa comum, não o poderá encontrar. Sei lá. Hora dessas posso pedir às minhas amigas plugadas para me levarem a Castro pelo Google Earth... Por enquanto, interessa dizer que, em minha cidade natal, o cartório de registro civil é eficientíssimo e sua atendente tem lindo sotaque. Eu amo quase todos os sotaques...
Afora isso, não tenho memórias de Castro. Depois de meu nascimento, minha família trabalhou em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Então, voltou ao Paraná. Dessa vez em Araucária.  Araucária, a árvore, é tão bela quanto a cidade.
São viscerais as memórias que trago deste lugar. Minha mãe fez uma sacola de tecido estampado em laranja e branco, com babadinhos, imagina. O padeiro passava madrugadinha e deixava o pão na sacola. Também o leiteiro deixava sua garrafa. Um lugar gelado. E esses homens encantavam minha vida.
Passei pelo terror de não aprender contas de subtrair. Via meus colegas gangorrando nos cipós da belíssima Escola Elizabeth Wherka e morria de inveja. Mas era linda a liberdade daqueles meninos, e eu fruía. Em Araucária vi, furtivamente, no televisor dos vizinhos, o Sítio do Pica-pau Amarelo. Foram poucos os episódios que pude ver. Mas suficientes para delinear sonhos em mim.
Fui a representante dos povos indígenas numa espécie de carro alegórico levado pela Escola ao desfile do 7 de setembro. Fui cuidadosamente preparada para a ocasião e havia uma sensibilidade na indumentária e na maquiagem. Um desfile deslumbrante, ao menos sob minha ótica. Talvez um dos momentos mais lindos da minha vida. Como poderia eu saber que aquele era um marcante evento dos anos de chumbo?
Em Araucária, ouvia meus colegas xingarem uns aos outros de “viado”. Eu lá podia imaginar o que seria isso! Apenas sabia que era um xingamento. Tive ódio de um médico que determinou a retirada das minhas amígdalas, e disse a meu pai que o doutor era um viado. Pobre do meu pai. Já passou cada uma comigo. Mas não deixou barato, é claro. Hoje eu penso que em todos os lugares, os xingamentos não podem ser homofóbicos, nem sexistas, nem preconceituosos em nenhuma forma. Deve haver alguma forma mais civil de expressar a raiva, constituinte de todos nós.
Eu voltarei a pisar as terras de Castro e de Araucária. Quero rever minha escola. Quero apreciar os pinheiros. Comer os pinhões, louvados sejam. E conhecer o cartório.
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