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História do Imbiruçu

Written By Ana Claudia Gomes on segunda-feira, 1 de agosto de 2022 | 11:46

Este é o resultado preliminar e adaptado para públicos não-acadêmicos do Projeto Memórias Migrantes em Betim - Uma história da Regional Imbiruçu. Seu caráter é eminentemente didático, para adultos com alguma formação, mesmo que autodidata, ou interesse em história.
A primeira fase do Projeto foi desenvolvida entre dezembro de 2021 e julho de 2022, gerando elementos para esta narrativa.
Os bairros e regionais administrativas da primeira região de indústrias de grande porte em Betim, a parte leste da cidade, quase não têm sistematização de sua memória, o que aqui é um objetivo.
Partimos do bairro Imbiruçu porque encontramos uma referência antiga a este lugar como ponto de passagem das entradas e bandeiras paulistas desde o final do século XVII. 
Nesta época, lusodescendentes oriundos principalmente de São Paulo, mas também portugueses nativos acompanhados de pessoas escravizadas e também livres e pobres, abriram caminhos preferencialmente em locais de topografia mais suave e acompanhando cursos de rios.
O objetivo era encontrar jazidas de metais e pedras preciosas, tendo por isso nossa região, hoje estado, recebido o nome de Minas Gerais. O sertão ou interior do Brasil era o destino, tendo sido encontradas jazidas principalmente nas regiões da atual Minas Gerais e em Goiás.
Os caminhos que ligavam a vila de mineração de Sabará até a vila de mineração de Pitangui atravessavam o atual território de Betim. Na altura do atual Imbiruçu, havia um entroncamento de caminhos, pois um também vinha do sul das Minas Gerais.
É possível, mas ainda não temos documentos para comprovar, que o nome Imbiruçu tenha sido dado por povos indígenas, já que a palavra tem origem no tupi-guarani, língua mais falada no Brasil até o século XIX. O grande tronco linguístico tupi-guarani, falado com variações por diversos povos indígenas, era característico do centro do Brasil.
Imbiruçu significa grande embira. É uma espécie de médio porte, com copa generosa, e que se caracteriza por abrir suas flores à noite e fechá-las ao alvorecer.
Relatos orais dão conta de que os imbiruçus eram muito numerosos até a primeira metade do século XX. Isso nos permite deduzir que a árvore era endêmica na região, antes de haver progressivamente mais intensa urbanização. Também é possível supor que essa região fosse adequada para paradas de descanso, alimentação de animais e, logo, alimentação para as pessoas que compunham os grupos mineradores e as tropas de abastecimento.
O Imbiruçu era primeiro atingido pelos viajantes, e só depois o encontro com o atual Riacho das Areias com o igualmente atual Rio Betim.
Ainda no início do século XX, o Riacho das Areias se chamava Riacho Imbiruçu, como consta no mapa pós-emancipação de Betim, de 1939. A intensa retirada de areias em seu leito e proximidades pode ter ensejado a adoção deste nome, bem como o não se restringir à região posteriormente conhecida como Imbiruçu, e onde nasce o Riacho.
No final do século XVII, aconteceu um conflito que se tornou conhecido com Guerra dos Emboabas. Luso-brasileiros e portugueses nativos disputaram algumas regiões estratégicas da Minas com armas. Os luso-brasileiros, cuja boa parte era paulista, venceu o conflito. Então, esses vencedores buscaram formas de assegurar os territórios estratégicos.
Emboaba significa estrangeiro e foi como os bandeirantes paulistas denominaram os bandeirantes portugueses, seus adversários nesta guerra.
Foi quando um importante parente do famoso chefe de bandeira Borba Gato pediu à então rainha de Portugal, Maria I, uma carta de sesmaria de terras nas proximidades do encontro entre o então Riacho Imbiruçu e o Ribeirão da Cachoeira, hoje Rio Betim.
É importante explicar o que era carta de sesmaria. Inicialmente, para ocupar as terras que lhe cabiam nas Américas, os portugueses demarcaram grandes faixas de terra chamadas capitanias. Esse nome foi dado porque os proprietários nomeados eram chamados de capitães-donatários (donos).
Mas era muita terra para cada um desses privilegiados ocupar. Então, passaram a ser dadas sesmarias no interior das antigas capitanias, que eram lotes menores de terras, mesmo assim muito grandes. Os colonizadores lusos e luso-brasileiros escolhiam territórios estratégicos de passagem, territórios onde havia riquezas no subsolo, locais bons para cultivar e criar animais, dentre outros.
O já citado parente de Borba Gato, José Rodrigues Betim, pediu sesmaria nas terras próximas do encontro entre o Riacho das Areias e o Ribeirão da Cachoeira. Também é importante saber por que o atual Rio Betim tinha esse nome. É porque nele há uma bela cachoeira, que era utilizada para recreação até cerca de cinco décadas atrás. Depois o rio passou a ser poluído e sofrer redução de suas águas por ação humana.
Logo o Ribeirão da Cachoeira passou a ser chamado Ribeirão do Betim, pois este conseguiu sua carta de sesmaria em 1711.
Conquistado o território, José Rodrigues Betim mudou-se para as proximidades da vila do ouro de Pitangui, onde viveu até a morte. Nenhuma construção que ele tenha feito junto ao Ribeirão do Betim restou.
Mas a região da atual Betim não tinha metais ou pedras preciosas, exceto pouco ouro superficial no Rio Paraopeba. Este, sim, é o maior rio que atravessa o território de Betim. O território da Betim de hoje especializou-se em produzir alimentos para as regiões mineradoras e também para os novos ocupantes que chegavam.
Falando assim, parece que o território estava vazio quando chegaram tais ocupantes. Mas não. Essas terras eram indígenas, que só ocupavam pequenas porções de cada vez, apenas o necessário para sobreviver, mantendo amplas reservas de recursos naturais.
A escravidão indígena foi proibida graças à ação de religiosos católicos, que tiveram contato mais profundo com as culturas indígenas, mas estes povos continuaram a ser escravizados até muito recentemente. Ouvimos relatos no próprio Imbiruçu de bisavós de moradores que eram indígenas e foram capturadas ainda meninas por homens lusos ou luso-brasileiros. O principal objetivo era suprir a "falta" de mulheres, porque esses migrantes chamados bandeirantes eram principalmente homens. Havia também o interesse pela beleza das mulheres indígenas: muitos povos não cobriam o corpo pois não tinham crenças sobre o corpo ser símbolo de pecado, e também assim desnudos enfrentavam mais livremente os climas quentes.
Os indígenas foram mortos e perseguidos, fugindo cada vez mais para o oeste, tendo diminuído o número de pessoas graças ao extermínio e a não terem resistência às doenças dos estrangeiros que lhes tomaram as terras.
Não é impossível que o Imbiruçu tenha tido aldeamentos indígenas, pela suavidade de sua topografia entre morros, presença de águas e matas próximas. Só escavações arqueológicas poderiam checar isso.
Após a conquista de José Rodrigues Betim de sua sesmaria, é possível que tenha sido concedida a Francisco de Souza Landes uma sesmaria na região do Imbiruçu. Ainda precisamos checar isso, mas o interesse em proteger caminhos permite essa hipótese.
Enquanto isso, ainda na metade do século XVIII, desenvolveu-se um arraial às margens do Rio Paraopeba, no sul do território da atual Betim. Esse arraial chamou-se Bandeirinha, bandeira pequena. Era dado esse nome a concentrações de pessoas que buscavam ouro na água dos rios e produziam alimentos.
Bandeirinha logo atingiu um número razoável de pessoas e provavelmente bons contatos com pessoas poderosas. Por isso, enviou petição à Igreja Católica para construir uma capela. Isso porque os templos católicos mais próximos estavam muito longe, na atual Contagem e na atual Esmeraldas.
Acontece que muitos procedimentos importantes só eram realizados pela Igreja Católica, como registros de nascimento, casamentos e sepultamentos. Além do que essa Igreja era a religião oficial na colônia portuguesa do Brasil. Era praticamente obrigatório frequentá-la.
E a Igreja autorizou a construção da capela porque avaliou que os habitantes da Bandeirinha tinham condições de construí-la e mantê-la - isso era feito pelos fieis, não pela Igreja.
Os habitantes da Bandeirinha queriam que fosse a santa homenageada na nova capela a Senhora do Carmo. Sempre a devoção a essa santa era fixada em lugares altos, aos quais se podia dar o nome de Monte Carmo.
E assim foi feito. O monte mais alto próximo da Bandeirinha era onde hoje se encontra a Casa da Cultura da cidade de Betim. Deu-se-lhe o nome de Monte Carmo e foi construída a capela. Isso não era muito simples pois era preciso transportar madeira de lei para a construção.
Logo o entorno da capela se tornou local de atração de moradores. Pessoas ricas da região construíram casas para permanecerem nos dias de missas e festas. Abriram-se estabelecimentos comerciais e de prestadores de serviços.
Era meados do século XVIII e já o povoado de maior movimento no território da atual Betim era o do Monte Carmo, mais conhecido como Capela Nova do Betim. Bandeirinha permaneceu arraial, frequentava o referido Monte, manteve o nome e hoje é uma populosa região, também com muitas indústrias. Existe ali uma festa à Santa Cruz, muito comum em comunidades rurais antigas.
Durante todo esse século, poderosas e muitas grandes fazendas se formaram no território da atual Betim. A Fazenda Imbiruçu foi uma delas. Ainda não sabemos o nome de seu primeiro proprietário, mas temos os nomes de quatro herdeiros no século XIX.
Outras fazendas muito importantes eram Serra Negra e Ponte Nova. A Serra Negra se destacou por ter como dono um homem da confiança da rainha. Restaram muitos documentos sobre essa fazenda, que permitem ver que ela foi muito importante nos séculos XVIII e XIX. Seu proprietário João Nogueira Duarte também veio com a função de defender o território para os portugueses.
A Fazenda Ponte Nova demarcava a passagem sobre o Rio Paraopeba rumo a Mateus Leme e Pitangui. Deduz-se que havia uma ponte velha, não sabemos exatamente onde, e quando se construiu uma ponte nova, esta deu nome ao entorno.
Essas fazendas tornaram o território de Betim de economia muito destacada como produtora agropecuária. Temos muitos dados da produção da Serra Negra e de Betim como um todo, mas não da Fazenda Imbiruçu, pois ela estava ligada a Contagem. Portanto, documentação sobre Contagem será objeto de mais pesquisas.
Nas fazendas citadas, o trabalho nos campos e o processamento dos produtos era feito por africanos e afrodescendentes escravizados. Ainda não temos como dar detalhes da vida dos escravizados no território de Betim, mas sabemos que há farta documentação a ser consultada. Sabemos que alguns deles exerciam funções especializadas, como sapateiros e marceneiros, pagando rendas aos seus senhores ou proprietários. Só temos como vestígio o bairro Angola, cujo nome foi dado em alusão à região da África de onde vinham muitas pessoas escravizadas.
A Fazenda Imbiruçu começou a ser dividida em pedaços menores no século XIX. Nessa época parece ter diminuído a produção agropecuária no território de Betim. Os herdeiros da Fazenda Imbiruçu passaram a vender terra para agricultores mais modestos, que produziam alimentos, porém menos gado bovino, pois este necessita de grandes extensões para pasto e investimentos altos. Eram mais produtos agrícolas e pequenos animais, como porcos e galinhas e, se possível, bons equinos e muares para o transporte.
A Fazenda Serra Negra continuou muito forte até o século XX, quando seus proprietários tiveram problemas políticos com o partido dominante, mas ainda há vivas em Betim pessoas que podem falar sobre os últimos tempos da Serra Negra.
A Fazenda Ponte Nova ainda existe, ainda tem um casarão do século XIX, que era sede da fazenda, e hoje está ocupada, com título de propriedade, pelo Assentamento Dois de Julho, do MST.
Voltemos ao Imbiruçu. Era final do século XIX e o arraial da Capela Nova do Betim já tivera construída sua Matriz à Senhora do Carmo. Continuava o arraial mais populoso da região.
Nos anos 1890, foi construída uma nova capital para Minas Gerais. É que o Império do Brasil, com rei próprio, que tinha governado o país no século XIX, fora substituído pela República. Os republicanos desejaram mostrar a modernidade do Brasil, construindo uma nova capital para Minas, que então ficava em Ouro Preto.
A mudança de capital trouxe muitos novos habitantes que não eram mais dedicados a produzir os próprios alimentos. Em torno da nova capital, mais e mais pequenos agricultores faziam o trabalho da produção de alimentos e levavam a pé, em carros-de-boi ou em cavalos e mulas a produção para a nova grande cidade.
O Imbiruçu recebeu pequenos proprietários com essas funções. Encontramos uma extensa família que é descendente de um desses antigos proprietários, que comprou uma pequena chácara no miolo do Imbiruçu, onde hoje estão o Frigorífico Serradão e a Escola Municipal Sebastiana Diniz.
A Professora Ronilda Sabino Lobo, a Lora, muito conhecida na região, é descendente dessa família e nos deu depoimento, ainda nos levando a conhecer vários de seus parentes. Eles nos contaram que seus ancestrais produziam principalmente hortifrutigranjeiros e pequenos animais para vender em Belo Horizonte. Iam a pé ou em animais. Nessa família havia ancestrais descendentes de italianos, que vieram para o Brasil no final do século XIX.
Muitos italianos estavam em condições precárias em sua terra de origem, atravessada por guerras. E houve propaganda do governo brasileiro na Itália, buscando atrair italianos. Havia no Brasil uma rejeição dos numerosos trabalhadores afrodescendentes, que recentemente, depois de 1850, haviam sido libertados. O governo brasileiro defendia um branqueamento de sua população, pois havia forte racismo contra as pessoas de pele negra. Esse racismo ainda é apontado como um grave problema no Brasil, que mantido as pessoas negras mais pobres.
Mas os italianos, como os ancestrais de Lora, se uniram por casamento a pessoas afrodescendentes e não houve propriamente branqueamento da população brasileira. Há numerosos negros e pessoas chamadas de morenas, que são descendentes dos vários povos que formaram o Brasil: os indígenas, os afrodescendentes, os europeus, os asiáticos.
O Imbiruçu tinha chácaras e muitas matas, das quais se tirava lenha. O vale do Riacho das Areias e toda a região eram aprazíveis, com águas límpidas, árvores frutíferas, pássaros, animais silvestres e as casas eram distantes uma das outras.
Parece ter sido por esta época que se construiu uma capelinha a Santo Antônio, para que os católicos se reunissem mais perto do arraial que se formava, não precisando se deslocar a pé com tanta frequência para a Matriz de São Gonçalo de Contagem, que era a sede religiosa mais próxima. Ao menos sabemos que havia a Fazenda da Rede Ferroviária em que se plantara um grande eucaliptal que se tornou referência como topônimo adotado pelos moradores. Após ele, saindo do Imbiruçu, estavam a Capelinha de Santo Antônio e o campo de futebol do Cruzeirinho. Nos anos 1990, a região da fazenda foi loteada, dando início ao atual bairro Capelinha.

O atendimento a estas duas Igrejas, era feito pelos padres da Paróquia de São Gonçalo - Contagem, ou da paróquia de São Francisco - Betim. As visitas dos sacerdotes eram para os moradores da época, um grande acontecimento. Haviam celebrações ora, na Igreja de são Sebastião, ora na Capelinha de Santo Antônio. Estas visitas, não eram mais freqüentes devido às dificuldades de transportes existentes na nossa região. Esses padres só vinham se fossem buscados pelos moradores, que também possuíam poucos carros na época (Memorial da Comunidade de Santo Antônio de Pádua). 

Havia olarias por toda a região, que produziam tijolos e telhas para as construções, inclusive da capital. O vale do Riacho das Areias era cheio delas. Também se retiravam areias, como o nome do rio indica, e também pedras das pedreiras e madeira, sempre para as construções nos centros urbanos.
Era época de construção de ferrovias no Brasil. As ferrovias eram consideradas mais um sinal de chegada da modernidade, um meio de transporte mais rápido e forte para grandes volumes de cargas. A empresa Estrada de Ferro Oeste de Minas planejou um trecho de trilhos de Belo Horizonte a Divinópolis. Desde lá e passando por toda a atual Betim, vinham e iam passageiros e cargas. 
A inauguração do trecho em Betim se deu em 1910, com uma estação nas proximidades da Matriz do Carmo, porém mais próxima do Rio Betim. Também foram construídas paradas do trem em vários pontos, como Imbiruçu, PTB, Alterosas e Vianópolis. Vianópolis logo ganhou uma estação, pois era um antigo centro de produção. Nas proximidades dessas paradas e estações, terrenos se valorizaram e foram vendidos em partes menores, formando arraiais. É dessa época o arraial do Imbiruçu. Em 1939, ele já era o segundo centro urbano no território da Betim recentemente emancipada de Esmeraldas.
Aconteceu que, no centro de Betim, a população passou a crescer nos arredores da estação e não mais nos arredores da antiga Matriz. Em Vianópolis também o povoado superou o antigo Povoado do Buraco, que hoje se chama Santo Afonso.
Já nos anos 1940, o governo brasileiro queria expandir a produção industrial no país e levar trabalhadores para perto das indústrias, que eram consideradas melhores para enriquecer o Brasil do que a extração de recursos naturais e a agropecuária. Planejou-se a Região Metropolitana de Belo Horizonte, ou seja, o povoamento das cidades no entorno da capital, para trabalhar não só nas indústrias, mas também no comércio e serviços.
Betim recebia como função ser uma cidade de trabalhadores, indústrias e empreendimentos diversos.
Atentos aos locais onde o governo planejava essas novas atividades, empreendedores imobiliários passaram a comprar vastos terrenos para lotear. Alguns loteamentos se destinavam às pessoas abastadas de Belo Horizonte. Eles foram divididos em chácaras para que as pessoas construíssem casas de campo e usufruíssem ambientes naturais.
Assim foi formado primeiro o Jardim Teresópolis. A empresa imobiliária Comiteco chacreou a colina onde está o Jardim Teresópolis, construiu ruas e também uma elegante estação de trem para facilitar o acesso. Alguns lotes foram comprados, especialmente por pessoas que queriam investir para um futuro de valorização. Mas o empreendimento não teve sucesso em atrair moradores e acabou dando lugar ao renascimento da vegetação. O Teresópolis tinha uma aprazível cachoeira, que ainda está lá, mas com menos água, pois os lençóis subterrâneos fornecem água para consumo humano.
Os relatos sobre o Teresópolis nos foram dados por José Geraldo Farias, Jaime Thalles Vieira e Geraldo Carlos Martins.
Nas proximidades do Clube Forense também aconteceu chacreamento, que teve mais sucesso porque os próprios sócios do clube compraram terras. 
Havia lá uma escola, como também foi fundada em 1941 a atual Escola Municipal Sebastiana Diniz Mattos Cardoso, do Imbiruçu. Essas escolas eram chamadas pelo governo do estado, que as mantinha, de escolas rurais, e a do Imbiruçu chegou a se chamar Escola da Aldeia Imbiruçu.
A Comiteco empreendeu diversos loteamentos na região e os mais populares começaram a ser ocupados realmente. Isso aconteceu, por exemplo, no Bairro São Cristóvão. Famílias que haviam migrado do interior para as redondezas da capital muitas vezes moravam em habitações precárias, alugadas. Então, havia oferta de lotes baratos e financiados um pouco mais distante da capital, que foram comprados por pioneiros e eles mesmos para ali atraíam parentes e amigos. As casas eram geralmente construídas pelas próprias famílias e amigos, como num mutirão. Os relatos sobre o bairro São Cristóvão nos foram dados por Sebastião Geraldo Martins, o Tatão.
A Comiteco atuou principalmente a partir dos anos 1950, quando esses bairros de que tratamos foram mais ocupados. Também foi nessa época que o governo federal construiu a rodovia Fernão Dias (BR 381), ligando Belo Horizonte a São Paulo. Ela foi inaugurada em 1959. Começava a era dos transportes rodoviários no Brasil e os trens perderam clientes. Os moradores do Imbiruçu, do PTB, das Alterosas passaram a contar com ônibus para ir a Contagem e Belo Horizonte.
Nos anos 1960, teve continuidade o processo de loteamento na região e finalmente chegou a primeira grande indústria, conforme o planejamento da Região Metropolitana, já citado. A Refinaria Gabriel Passos, da PETROBRAS, ocupou uma região de fazendas, próximas do Córrego Pintado. Sua inauguração se deu em 1969.
A Refinaria não teve muito impacto no sentido de dar emprego aos que moravam na região. Muitos trabalharam em sua construção. Para gerir o refino de petróleo e produção de vários derivados, era preciso trazer funcionários especializados, e alguns vieram morar nas proximidades, mas geralmente na capital e em áreas de moradia valorizadas.
Nessa década, continuou o movimento de chegada de imigrantes nas regiões de que aqui tratamos. Não era portanto a indústria apenas, mas a possibilidade de casa própria o principal motivo de virem.
O governo do estado e o do município de Betim já negociavam para trazer outra grande indústria, desta vez a montadora de veículos Fiat Automóveis, inaugurada em 1974. Muitos moradores do entorno trabalharam na terraplanagem e construção dos galpões da empresa. Logo outras grandes empresas também ali se instalaram, principalmente para abastecer a Fiat com peças.
Houve moradores da região trabalhando nessas empresas durante anos, mas muitos também não gostaram do trabalho industrial e se dedicaram a exercer comércio, serviços, trabalho em pequenas empresas e mesmo na agricultura.
Porém, achegava-se um novo tempo. Como símbolo, temos mais uma vez o Jardim Teresópolis. Por agora estar em frente à Fiat, e haver grande propaganda sobre o progresso que a indústria traria, moradores de várias regiões de Betim decidiram ocupar o antigo loteamento.
Tivemos relato de Geraldo Carlos do Nascimento e sua família, que chegaram ao Teresópolis na década de 1980, de que as primeiras habitações eram barracos de lona. Houve grande imigração. Buscava-se água nas nascentes próximas. As antigas chácaras deram lugar a pequenos lotes e as casas foram construídas muitas vezes sem acabamento e muitas vezes com paredes geminadas, revelando que os imigrantes tinham poucos recursos. Mas também que talvez já tivessem a experiência de morar muito próximos uns dos outros, nas grandes cidades e bairros populares por onde passaram primeiro.
O Teresópolis não foi um caso único. A maioria dos bairros das atuais regionais de Betim Imbiruçu, Teresópolis, PTB e Alterosas tiveram histórias parecidas. Temos o desafio de pesquisar a história dos bairros para buscar as semelhanças e diferenças.
Alguns bairros, como o São Caetano, foram planejados para trabalhadores da indústria. Mas essa característica não se manteve porque as residências, apartamentos por exemplo, foram vendidas.
Esses bairros e regionais receberam grande aglomeração urbana. Muitos bairros foram chamados de vilas e favelas e havia um claro preconceito contra seus moradores. Houve uma escalada de violência urbana na região. Precisamos ver que ali muita gente vivia pertinho umas das outras, tinha poucos recursos, então é compreensível que mais ocorrências violentas acontecessem. Muitas expectativas que esses moradores tinham não aconteceram de verdade. Mas nunca as pessoas violentas ou que praticaram alguma violência tiraram a verdadeira característica desses bairros, que era abrigar trabalhadores e permitir entre eles intensa solidariedade e criação de um senso de comunidade e de pertencimento.
Na década de 1990, após mobilizações comunitárias que começaram já nos anos 1980, com as associações e a formação dada pelas paróquias católicas dedicadas a comunidades trabalhadores, a região conquistou expansão da eletrificação e do saneamento básico, equipamentos públicos como centros de saúde, escolas, centros de assistência social e de cultura e outros.
A partir da década de 2000, a Prefeitura enfrenta dificuldades para ampliar e manter essa estrutura, então ela vem estabelecendo parcerias com empresas privadas, que constroem unidades públicas como contrapartida de seus empreendimentos ocorrerem na cidade.
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A conversa com nossos entrevistados revelou, em geral, satisfação com a evolução da qualidade de vida nas últimas décadas, demonstram gostar de viver em seus bairros e manter intensas redes de sociabilidade. Foram citadas com pesar a perda da linha de ônibus que tinha ponto final na região e a perda da maternidade municipal. Citou-se também a necessidade de um hipermercado e de áreas de lazer.

Com a participação de Adriana Lisboa (pesquisa documental e oral) e Otília Sales (pesquisa oral).

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