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História da vida religiosa em Betim

Written By Ana Claudia Gomes on domingo, 20 de maio de 2018 | 08:19

Celebração católicasob a antiga Árvore do Óleo, no bairro Angola, em 1941.


O Brasil tem sido designado como uma grande nação católica. A colonização lusa foi determinante para que o catolicismo fosse a forma de devoção religiosa predominante no Brasil e apenas no século XX essa hegemonia começou a ser ameaçada pelo avanço de outras denominações cristãs e pela maior liberdade na expressão de religiosidades não-cristãs e mesmo não-religiosidades.
Em Betim, por conseguinte, as mais antigas referências à religião se referem ao catolicismo, até porque outras práticas, por sua marginalização social, dificilmente teriam deixado registros sistemáticos.
A construção de um templo religioso católico foi o primeiro registro da existência de uma vida comunitária no arraial surgido nas proximidades da sesmaria do Betim, como era de praxe no período colonial brasileiro. Igreja e Estado constituíam uma mesma instituição, e assim permaneceram até a primeira Constituição do Império, em 1824, quando as convicções laicas do imperador D. Pedro I separaram as duas instituições.
O primeiro templo na região denominou-se Capela de Nossa Senhora do Monte do Carmo, ou Capela Nova do Betim, e se localizava onde hoje está a Praça Miltom Campos. Este templo foi construído em 1754, a pedido dos principais moradores do arraial da Bandeirinha do Paraopeba, provavelmente umas dez famílias mais poderosas que, para receber assistência espiritual, precisavam dirigir-se ao Curral d’El-Rei, então sede da freguesia, hoje Belo Horizonte, ou a Santa Quitéria, hoje Esmeraldas. Ali se instalara o mais importante núcleo local de passagem e parada dos bandeirantes e de abastecimento - produção de alimentos e pecuária. Já estava ocupado por volta de 1720.
O local de implantação do templo foi escolhido por ser o mais alto em relação ao arraial da Bandeirinha, no vale do Paraopeba.
O cultivo da religiosidade católica para aqueles pioneiros não era fácil. Estavam eles na convivência dos aventureiros do ouro, e os templos eram distantes. Os casamentos e batizados precisavam aguardar a ocasião das festas; as confissões e sacramentos podiam ser dispensados pelos capelães mais próximos, que, no caso do arraial da Bandeirinha do Paraopeba, ficavam a várias léguas de distância. Como não havia cemitérios antes do final do século XIX, sendo os mortos enterrados nos templos – os senhores no interior dos mesmos e os escravos e indigentes nos seus adros – os habitantes do primeiro núcleo de povoação de Betim precisavam viajar um dia para enterrar seus entes queridos na capela da Boa Viagem do Curral d’El-Rei.
Além disso, os meados do século XVIII foram um tempo de grande atividade normativa da Igreja Católica. O Brasil era visto como lugar propício aos desvarios da alma, e eclesiásticos visitadores buscavam infiéis até mesmo nas pequenas comunas. O concubinato era uma das principais preocupações dos eclesiásticos e as comunidades adotavam essa prática devido principalmente às dificuldades e ônus para a realização de casamentos. Assim construir um templo e manter um capelão nas proximidades era, para as comunidades, não apenas um ato de fé, como também uma questão de segurança, visto que o padre local podia proteger seus fiéis da fúria inquisitorial e das delações.
O padre Antônio Carneiro Leão, provisionado primeiro capelão, deve ter sido o responsável pela petição ao Bispo de Mariana para a construção do templo, visto que era necessário conhecer algo das praxes da Igreja para obter permissão. O referido padre aparece numa lista de moradores da Bandeirinha do Paraopeba em 1753[1]. A permanência do capelão em Betim, isto é, sua manutenção, era responsabilidade dos potentados locais, nesse caso os do arraial da Bandeirinha.
O curato da Capela Nova do Betim ficou pertencendo à paróquia do Curral d’El-Rei, assim permanecendo até 1851, quando foi, ela mesma, elevada a paróquia. Por volta de 1811, a Capela Nova do Betim estava passando por obras de reedificação. Provavelmente, a primeira capela, de construção precária, não resistiu muito.
A Capela Nova do Betim teve como padres-cura, entre 1754 e 1851, Antônio Carneiro Leão, Domingos Ribeiro de Souza Pedreiro, Manoel da Fraga Coelho e Liberato José Fernandes.
A primeira visita pastoral de que se tem registro na Capela Nova do Betim aconteceu em 07 de setembro de 1822, o mesmo dia em que D. Pedro protagonizava a famosa cena da independência, às margens do Riacho Ipiranga. Nesse dia, Dom Frei José da Santíssima Trindade, Bispo de Mariana, chegava à Capela Nova do Betim, sendo recebido pelos cerca de 1.600 habitantes do lugar que tinham à frente o capelão, Padre Manoel da Fraga Coelho.
Das anotações desta visita, chega-nos uma descrição da antiga capela, já reedificada:

“Tem três altares pobremente ornados, e ornamentos suficientes para o diário; mas os vasos dos santos óleos são de estanho.
A Capela está toda arruinada, máxime a Capela Mor, e os Aplicados prometeram consertá-la.
Consta que já fizeram as paredes da Capela Mor de novo”.[2]

Em 1851, a Capela Nova do Betim tornou-se paróquia. Isso dá uma medida da vitalidade econômica e da boa articulação política do arraial, pelos seguintes motivos: manter um curato já era uma situação difícil para diversas comunidades religiosas porque o padre-cura não recebia da Igreja, nem do Estado, recursos para sua manutenção ou do templo e seu patrimônio, o que era feito pelos fiéis. O fato da Capela Nova do Betim ter tido sempre seu padre-cura dá uma medida de sua abastança. Já a elevação a paróquia tinha fortes conotações políticas porque as eleições locais eram realizadas nos templos, sob a condução dos párocos. Criar uma nova paróquia significava abalar os acordos já estabelecidos, entre os mandatários locais e os sacerdotes.
Não por acaso, a criação da paróquia era objeto de peça legal decretada pela Assembléia Legislativa e sancionada pelo Governo Provincial.
Um outro requisito para a elevação de um território a paróquia era contar com uma população mínima de cinco mil almas. Entretanto, dados de 1842 contam 2.703 pessoas em Capela Nova.
A paróquia da Capela Nova do Betim foi criada pela Lei nº 522 de 23 de setembro de 1851, sendo instalada apenas em 1855, por motivos ignorados. O Distrito das Bicas foi, na ocasião da criação da paróquia, desmembrado da paróquia de Mateus Leme e anexado à de Capela Nova.
O primeiro vigário da Capela Nova do Betim, Manoel Roberto da Silva Diniz, foi colado a 08 de novembro de 1855. Os seguintes foram Cassimiro Moreira Barbosa, Domingos Cândido da Silveira, Osório de Oliveira Braga e Rafael Martins (atualizar com registros da Matriz do Carmo).
Embora não haja registros indubitáveis sobre isso, pode ser que a demora na instalação da paróquia se tenha devido ao fato de que a capela destinada a ser sua sede fosse muito acanhada, sem a dignidade de uma igreja matriz. Por isso, por ocasião da primeira visita pastoral à nova paróquia, em 1856, o missionário capuchinho Frei Francisco Coriolano Otrante propôs uma subscrição de quinhentos réis entre os fiéis, para as “obras e alfaias”[3] da matriz, no que foi plenamente atendido por extensa lista de moradores das diversas localidades que compunham o Distrito.
Além dos padres Manoel Roberto da Silva Diniz e Francisco de Paula e Silva, encarregados de administrar os recursos e as obras, criou-se uma Sociedade Pia, com o mesmo fim, da qual faziam parte os mais destacados potentados locais: Capitão Antônio Joaquim Rodrigues, Manoel Franco do Amaral, Crispiniano José da Costa, Antônio Nogueira Duarte e Cunha, Valentim José Diniz, José Teodoro Silvino, Francisco Miranda da Silva, Tenente-coronel João Nogueira Duarte (proprietário da Fazenda Serra Negra e chefe local) e Capitão João Ricardo Varella.
Dois cofres foram disponibilizados para acondicionar as esmolas dos fiéis: um, com três chaves, em casa do vigário – cada chave ficava com um dos principais responsáveis pelas obras – e um ao pé da cruz, no largo da matriz, para as doações ocultas.
O Vigário Manoel Roberto da Silva Diniz faleceu antes de ver terminadas as obras da matriz, sendo substituído pelo Vigário Cassimiro Moreira Barbosa, que verificou a falta de recursos para a continuidade das obras.
Em 1861, por ocasião da visita pastoral, à Capela Nova do Betim, do Bispo de Mariana, Dom Antônio Ferreira Viçoso, este tomou conhecimento do estado das obras e aceitou uma proposta feita pelo vigário, de utilizar para finalizar a construção da matriz recursos não-expressamente destinados a isso pelos fiéis – ofertas ao Cruzeiro e o dinheiro reunido durante 50 anos pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário para a construção de sua capela.
O Bispo deu despacho favorável ao Vigário com base na Constituição do Bispado; esta determinava que o Cruzeiro do qual foram desviadas receitas recebesse uma base de pedra e que N. Sra. do Rosário recebesse um altar ataviado e ornamentado na nova matriz, que inaugurou-se em 1867.
As obras da matriz duraram 11 anos e custaram 3 contos de réis, uma quantia considerada baixa pelo historiador Geraldo Fonseca.[4]
Apesar deste revés – a perda de suas economias – a Irmandade de N. Sra. do Rosário continuou sua luta pela construção de uma capela. A comunidade de “devotos pretinhos” de Capela Nova formara uma irmandade bastante pobre[5], com dificuldades de acesso à igreja da comunidade tradicional (porque havia intensa discriminação racial) e vinha angariando fundos para a construção de sua capela. Esse dinheiro ficava sob a responsabilidade do capelão, depois vigário local. A construção da igrejinha de N. Sra. do Rosário só se iniciou em 1894, começando a abrigar atos religiosos em 1897. Foi quase um século de luta pela construção.

Capela de N. Sra. do Rosário



As principais manifestações culturais dos remanescentes africanos em Betim têm como base espacial e lugar-síntese de suas atividades a Capela dedicada a N. Sra do Rosário, com seu amplo pátio, localizada em terreno alto do bairro Angola, nas proximidades da Igreja de São Francisco.
Embora sua inauguração só tenha ocorrido em 1897, é um templo com forte referência à arquitetura colonial e sua construção foi precedida por uma história de luta de quase um século.
Uma petição encontrada no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro revela que “os pretos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário do Arraial do Betim, na Freguesia de Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral d’El Rei, Bispado de Mariana, em Minas Gerais” pretendiam “continuar a ereção de sua Capela dedicada à mesma Senhora do Rosário”, pedindo para tanto “licença de Vossa Alteza Real”. O pedido era assinado pelo procurador da Irmandade, Antônio José da Silva, com data de 28 de setembro de 1814.
Embora a expressão “continuar a ereção” possa dar a entender que a obra já tivesse sido iniciada, a ausência de registros sobre qualquer construção leva à conclusão de que a Irmandade na verdade quisesse apenas “prosseguir na arrecadação de fundos e donativos para a construção”. E um dos indícios disso é o testamento de Manoel Antônio de Carvalho, falecido em Betim a 10 de outubro de 1828 (livro existente na Matriz de Boa Viagem, Belo Horizonte). Era sua vontade “deixar de esmola para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, da Capela Nova do Betim, que se pretende fazer, trinta mil réis”.
Quarenta e sete anos após a obtenção da licença (1861), o vigário Cassimiro Moreira Barbosa, em correspondência ao bispo de Mariana, falava na criação de duas capelinhas – “uma do Rosário e outra do Monte a Santa Helena”. Havia, sim, uma imagem da santa venerada pelos pretos, mas esta achava-se entronizada na matriz de Nossa Senhora do Carmo, “igreja dos brancos, dos senhores, constituindo empecilho às suas preces e oferendas”. Sem recursos para a obra desejada, a Irmandade acabou desanimando de seu intento por algum tempo.
Somente em 1894 é que se dá início, efetivamente, à edificação da Capela em honra de Nossa Senhora do Rosário. O livro de Receitas e Despesas (Arquivo da Arquidiocese de Belo Horizonte) tem sua abertura em 1894, com este lançamento: “Apontamentos das despesas feitas por conta e ordem do Revmo. Vigário Domingos Cândido da Silveira, na qualidade de Presidente da Mesa de Nossa Senhora do Rosário, com o começo do serviço no terreno aonde vai construir a Igreja da mesma Senhora...”
Cerca de 11 contos de réis haviam sido gastos, na construção, até dezembro de 1896. E, em fevereiro do ano seguinte, tais despesas chegavam a doze contos, quatrocentos mil e quinhentos réis, quando a Capela já recebia vidraçaria e nela se realizavam cultos religiosos.
Não existem mais os livros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, onde se pudesse pesquisar mais alguma coisa a respeito da obra. Sabe-se, por ser fato mais recente, que, com a criação, em Betim, da Paróquia de São Francisco de Assis, foi a mesma instalada quinze dias depois, ficando a Capela do Rosário como sua igreja central, até a construção da Matriz, iniciada em fins de 1974 e inaugurada em 1978.
Em meados do século XX, um lance controverso abalou a história da principal comunidade católica betinense: a demolição do antigo prédio da matriz e a construção da atual Matriz de Nossa Senhora do Carmo. A opinião da comunidade ficou dividida; Padre Osório, liderança religiosa incontestável naquele momento, adiou a demolição da velha matriz enquanto pôde, embora tenha se posicionado ao lado dos que defenderam a construção do novo templo[6]. Teve uma resistência ao empreendimento, em princípio, por causa da dificuldade em angariar recursos par, visto que a população de Betim estava, à época, bastante empobrecida. Logo após sua morte, em 1968, a velha igreja foi demolida (1969). Houve uma rejeição da antiga arquitetura colonial, em prol do “moderno”, ainda que de gosto duvidoso. Concorreram para isso os fatos de que o estado de conservação do antigo templo estava precário e a cidade havia crescido em seus fundos e não adiante da sua fachada, conforme teria esperado Bandeirinha, contrariando antigas tradições de posicionamento dos templos em relação às comunidades.
A ideia da construção de uma nova matriz partiu de Francisco Gomes do Prado, segundo depoimento de Divino Ferreira Braga ao historiador Geraldo Fonseca.
Em 1957, foi formada uma comissão de líderes locais com o fim de angariar fundos para a construção da nova matriz. Seu insucesso - apenas conseguiu a doação de dois lotes por Salvador da Silva Prado – fez com que se elegesse nova diretoria que, então, fundou a União dos Promovedores das Obras Sociais da Paróquia de Betim, cuja primeira atribuição seria a construção da matriz.
Dadas as dificuldades para se angariar fundos e o envolvimento insuficiente da maioria dos membros da diretoria da União, seu presidente, Divino Ferreira Braga, designou uma comissão de mulheres para reverter o déficit em que se encontrava o caixa das obras. Participaram desta comissão Sebastiana Diniz Mattos Cardoso, Djanir Arantes de Aguiar, Aurora Maria da Conceição, Maria da Conceição Barbosa, Ione Rodrigues Saliba, Luíza Maria da Glória, Ana Silva e Maria Joaquina da Silva. Foi o que bastou. Entre 1959 e 1963, o novo templo construiu-se e foi inaugurado, não sem a concorrência de recursos públicos.
Além das mulheres, destacaram-se nesta arrancada final da construção da matriz o Lion’s Club de Betim, Manoel Aguiar, Francisco Gomes do Prado, Álvaro de Sales Barbosa e os padres Rafael Martins e Paulo Fernandes.
O catolicismo foi a forma imperante de religiosidade em Betim em seus primeiros séculos, praticamente inexistindo registros quanto a outras formas religiosas antes do século XX. É evidente que formas variantes coexistiram, como é o caso do sincretismo afro-brasileiro documentado na existência da irmandade de N. Sra. do Rosário desde inícios do século XIX.
Dois padres betinenses se destacaram por sua liderança comunitária e pelo intenso exercício do poder político local: Domingos Cândido da Silveira, que atuou em finais do século XIX e início do XX e Osório de Oliveira Braga, que destacou-se principalmente nos anos 30 do século XX. Domingos Cândido da Silveira tinha pretensões político-institucionais e, em 1901, decidiu recuar tanto em sua liderança política quanto na religiosa por não ter conseguido que Capela Nova se tornasse sede do município criado naquela ocasião (a sede foi Santa Quitéria) e por não ter sido prestigiado pela comunidade capelanovense na eleição para a nova Câmara.
Padre Osório tornou-se um ícone da vida local. Suas posições políticas eram incisivas, o que o tornou opositor e perseguido pelo regime de Getúlio Vargas, que se endureceu a partir de 1937.
Consta que partiu de Osório Braga uma grande manifestação da comunidade capelanovense pró-emancipação da localidade, no dia da festa da padroeira, no próprio ano de 1937. Estava prevista a passagem de Benedito Valadares pela cidade; o padre mobilizou a comunidade para posicionar-se às margens da estrada e realizou a manifestação. Isso não é tido como fator determinante da emancipação do município mas não deixa de ser um indício da preeminência do padre.
Padre Osório era natural de Betim. Depois de ordenado, foi vereador, líder partidário e inspetor escolar. Não apenas passou por vicissitudes políticas como perseguiu seus adversários. Foi uma espécie de extensão do fenômeno de indistinção entre a Igreja e o Estado. Seu vicariato durou 77 anos, tendo morrido em 1968.
Suas posições religiosas podem ser caracterizadas como conservadoras, dado o registro de que, mesmo depois de abolidas estas práticas pelo Vaticano, continuava rezando missas em latim e de costas para o público.
Depois da Matriz e da Igreja do Rosário, as próximas comunidades religiosas católicas foram a Paróquia de Santa Isabel, criada em 1936, e a Paróquia de São Francisco de Assis, criada em 1968.
No final dos anos 60, estavam ligadas à matriz as capelas do Bairro Santa Cruz, do Bairro Bandeirinhas e do Bairro Charneca.

Paróquia de Santa Isabel

 

A história da Paróquia de Santa Isabel confunde-se com a própria fundação da Colônia. Poucos anos após a chegada dos primeiros portadores de hanseníase, Frei Pacômio, franciscano holandês, começou a celebrar missas no prédio que hoje abriga a sede do Minas Esporte Clube, e que na época abrigava uma pensão da Caixa Beneficente onde se serviam refeições. O Frei celebrava missas todos os dias, tocando antes uma sineta para chamar os fiéis.
Antes da chegada de Frei Pacômio, as Irmãs do Monte Calvário, presentes na Colônia desde 1931, já ofereciam assistência espiritual aos internos e lutavam pela vinda de um padre.
O primeiro templo local foi construído pela administração da Colônia, aproveitando-se os alicerces da casa-grande da Fazenda do Mota, e a paróquia propriamente dita foi instalada em 1936, sendo a segunda mais antiga no território hoje betinense (na época da fundação da paróquia, Betim ainda não era município e seu território pertencia à atual Esmeraldas).
Após Frei Pacômio, diversos franciscanos têm atuado na Paróquia de Santa Isabel, sendo os principais: Frei Grisógono Van Wen, Frei Geraldo Van Sanbek, Frei Hilário, Frei Simeão, Frei Rogato Rogmar, Frei Helano, Frei Edgar Groot, Frei Diogo Resing, Frei Francisco Duarte Júnior, Frei João Maria, Frei José Roberto Garcia Lima e Frei Heron Batista Beirigo.
Outros dois freis se destacaram na vida religiosa da Colônia: Frei Francisco Van Del Poel, que atuou como auxiliar de três párocos e trabalhou a consciência social dos fiéis, além de dirigir o Coral Tangarás de Santa Isabel, e Frei Francisco Prik, portador de hanseníase, cuja atuação religiosa durante dez anos foi marcante para os fiéis locais, por sua experiência com a doença.
Na década de 60, Frei Edgar Groot liderou a ampliação do templo, ele mesmo enchendo e conduzindo carrinhos de areia e contando com a ajuda da comunidade.
Hoje, a Paróquia de Santa Isabel conta com cerca de 15 comunidades, sendo a principal São Judas Tadeu, em Citrolândia. Suas principais festas são a de Santa Isabel, em 17 de Novembro, o Natal, a Semana Santa e as festas de São Judas Tadeu e Nossa Senhora das Graças.

 

Paróquia de São Francisco de Assis


A paróquia de São Francisco de Assis em Betim foi criada por Decreto Episcopal de nº 259 de 15 de março de 1968, tendo sido instalada 15 dias depois na Capela de N. Sra. do Rosário. Esta capela, até então ligada à matriz do Carmo, passou então à nova paróquia. O primeiro vigário de São Francisco em Betim foi frei Xisto de Bruijin (Hendrikus de Bruijin), holandês, que permaneceu no vicariato até 1971, quando foi substituído por Frei Luciano Brod.
A paróquia de São Francisco abrangia, no momento de sua criação, toda a metade noroeste do município. Sua matriz foi construída entre 1974 e 1976.
A origem dessa paróquia esteve ligada à instalação, em 1962, da Casa de Formação de Estudantes Franciscanos, uma espécie de pré-seminário que recebia adolescentes em formação para o Seminário e que transformou-se em Noviciado em 1965. A partir daí, a casa teve outras funções para a Ordem Franciscana: Clericato, com estudos em Filosofia e Teologia desde 1968, depois novamente Noviciado, a partir de 1973. Desde 1967, é conhecida como Convento Santa Maria dos Anjos e, a partir dos anos 2000, como Centro Franciscano de Espiritualidade, onde se realizam encontros religiosos e retiros espirituais. Seu prédio foi construído em 1961, à Av. Gabriel Passos, 178, Centro. É também residência de freis e estudantes que atuam em atividades sociais e educacionais.
Desde a chegada dos franciscanos a Betim, no início dos anos 60, muitos católicos locais passaram a se agregar em torno deles e, antes mesmo da criação da paróquia, Frei Xisto de Bruijin os pastoreava na capela do Rosário. Já neste primeiro momento, os franciscanos iniciaram um trabalho social em Betim, sendo o Salão do Encontro[7] o mais conhecido fruto dos primeiros trabalhos. Estiveram ligados à fundação do Salão que, aliás, surgiu nas imediações de uma capela assistida pelos franciscanos, os freis Estanislau Bartholdy, Xisto de Bruijin e Pedro Paulo Chiaretti (diretor do Centro Franciscano de Espiritualidade me 2003).
Além de Frei Xisto, figuram entre os fundadores da paróquia os freis Edmar Polman, Alexandre Noordeloos, Serafim Lunter (este, muito querido, viveu sua velhice no Convento Santa Maria dos Anjos, onde esteve cercado pela comunidade e, ao falecer, foi sepultado em Betim após mobilização dos paroquianos) e João José Slot.
Nos anos 70, além de envolvidos no trabalho social e na construção de sua matriz, os franciscanos atuaram também na formação de segmentos críticos na sociedade betinense. Nos contextos nacional da ditadura militar e local da repartição do poder entre dois grandes líderes políticos, Newton Amaral e Osvaldo Franco, os franciscanos constituíam duras vozes, logo taxadas de comunistas...
A atuação política dos franciscanos evidenciou-se principalmente no final da década de 70 e durante a década de 80, quando também emergiram as maiores lideranças de esquerda em Betim, não por acaso ligadas à paróquia de São Francisco.
Por volta de 1979, os franciscanos radicados em Betim avaliaram que o município reunia características, por sua eminente industrialização, para constituir uma pastoral operária. Propuseram tal coisa à Arquidiocese de Belo Horizonte e, aprovados em sua petição, assumiram a paróquia de N. Sra. do Carmo. O número de frades franciscanos que ocupavam a liderança das atividades eclesiásticas subiu de três para cinco, vindo para Betim, neste momento, os Freis Félix Neefjes, Antônio do Prado e Cristóvão Pereira. Este último teve grande preeminência na vida local, por seu radicalismo de esquerda; criticava publicamente o então Prefeito Osvaldo Franco, levou essa polêmica até aos veículos de comunicação e recebeu, na cidade, a alcunha de Frei Capeta.
Juntamente com Cristóvão Pereira, outros freis atiçaram, neste período, a fúria dos setores políticos mais conservadores de Betim: Eduardo Médici, João José Slot, Eduardo Metz e Eliseu Tijdink. Frei Patrício Moura Fonseca, então líder do provincialado, conta que recebeu representantes de uma família proprietária de Betim, os Souza Lima, os quais solicitavam que os “freis comunistas” fossem retirados de Betim, visto que apoiavam diversos movimentos sociais na cidade, inclusive ocupação das terras da família na região do Açude.
A união entre o Carmo e São Francisco durou cerca de meia década. Os franciscanos, talvez pelo perfil social dos paroquianos do Carmo, devolveram esta paróquia à arquidiocese e preferiram assumir a atribuição de fundar novas paróquias e pontos de religiosidade católica em Betim. Participaram, aliás, da fundação das paróquias de Nossa Senhora Aparecida (Filadélfia), Nossa Senhora da Conceição (PTB), São João Bosco (Alterosas), São Judas Tadeu (Bueno Franco), Maria Mãe dos Pobres (Teresópolis) e São Cristóvão (Imbiruçu).
O trabalho social dos franciscanos teve continuidade, após o afastamento em relação ao Salão do Encontro, através das pastorais da Criança (1988), da Saúde (1996) e Carcerária (desativada há quatro anos). Assim como os núcleos da esquerda em Betim se reuniam no salão do templo de São Francisco nos anos 70 e 80, hoje funciona também na paróquia o Escritório dos Direitos Humanos, entidade da sociedade civil polêmica, hoje sem apoio do poder público. Nos últimos dois anos, a paróquia criou e mantém a APSAFRA (Associação dos Prestadores de Serviços Autônomos da Paróquia de São Francisco), que promove a aprendizagem de trabalhos manuais e mantém farmácia comunitária.
O atual Centro de Triagem, mantido pela PMB como local de apoio para pessoas carentes, começou pela atuação dos franciscanos, na pessoa de Frei Pedro de Assis. Também a Creche Frei Luiz, hoje conveniada à APROMIV, que lhe repassa verbas, foi fundada pelo Frei Luiz Aguiar, franciscano mais moderado que, juntamente com Frei Luciano Brod, Frei Mário Rodrigues dos Reis, Frei Elias Hooij e Frei Patrício Moura Fonseca, fizeram a história mais recente da paróquia, de maior conciliação.
Setores mais tradicionais de Betim têm participado da vida religiosa na paróquia, inclusive o atual prefeito, Carlaile de Jesus Pedrosa, e sua família. Estes grupos sofreram seus reveses, especialmente no período mais inflamado da atuação dos freis, e têm agora acolhimento na paróquia com o mesmo status dos grupos de esquerda.
Frei Patrício diz que os franciscanos deixaram de usar o púlpito como tribuna mas não perderam seu veio crítico. E conta uma recente conversa com Carlaile, na casa paroquial, onde é sempre visitado, em que discutiu com o prefeito ações violentas promovidas pela Prefeitura, de “despejo” de ocupantes de certas áreas na região norte de Betim. Segundo o Frei, a receptividade do Prefeito foi imediata, através de ligação ao chefe do setor responsável.
A Paróquia de São Francisco cresceu na medida do crescimento populacional em Betim. Em 2002, pertenciam à paróquia 15 capelas e 5 pontos de missa. Tal configuração justificou a criação de duas novas paróquias na região, a do Sagrado Coração de Jesus (bairro Sagrado Coração) e a de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (bairro Bom Retiro). A paróquia de São Francisco e cada uma destas novas paróquias ficaram responsáveis por cerca de 20 mil habitantes.

Paróquia de N. Sra. Aparecida


Uma das mais destacadas comunidades religiosas católicas, dentre as mais recentemente criadas em Betim, é a Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, no bairro Filadélfia, inicialmente ligada à matriz do Carmo, cuja pedra fundamental lançou-se em 1975, pelo Bispo auxiliar Dom José Dalvit, de Belo Horizonte.
A comunidade da região freqüentava a matriz do Carmo e, especialmente alguns bairros, como a “Vila dos Atrevidos”[8], estava bastante carente de assistência espiritual. Frei Eduardo Metz começou, então, a celebrar missas em um cruzeiro da região.
Alguns líderes da região, como José Roberto Marcelino e Marcos Ribeiro Neto, se organizaram para conseguir um terreno, que foi doado por José Francisco Guaracy, sendo a construção presidida por comissão liderada por Décio Marçal Ferreira, padre Paulo Fernandes de Souza e Haroldo Garcia Rosa.
A comunidade começou a se reunir no prédio da Escola Estadual Sílvio Lobo, recém-inaugurado pelo Prefeito Newton Amaral. Enquanto isso, organizavam-se barraquinhas, almoços e bingos para a arrecadação dos fundos destinados à construção do templo. Por volta de 1975, ainda inacabado, o prédio da igreja começou a abrigar eventos religiosos.
Elevada a paróquia em (...), a Igreja de N. Sra. Aparecida hoje engloba as comunidades de São Geraldo (Chácara), São Pedro (Petrópolis) e São João Batista (Granja São João).
As principais festas promovidas pela paróquia são, em maio, festas em devoção a Maria, durante todo o mês; em junho, as festas juninas para Santo Antônio, e o Trido (três dias de oração); em julho, Trido a Sant’Ana, mãe de Maria, com missas, teatros, barraquinhas; em outubro, a festa de Nossa Senhora Aparecida, com mobilização das comunidades componentes da paróquia, novena, procissões de flores, doação de alimentos, barraquinhas. Nos moldes das festas de Aparecida do Norte, é aberta com uma carreata, no dia 03, e encerrada, no dia 12, com uma procissão motorizada pela cidade.
Frei Eduardo Metz foi o primeiro pároco, e depois dele vieram Padre Meireles, Padre Antônio Roberto e Padre Clairisson.
Entre as atividades sociais da paróquia, destaca-se a campanha de arrecadação de alimentos, para repasse aos vicentinos, que é realizada a cada segundo domingo do mês.




Protestantismo


As igrejas cristãs reformadas tiveram inserção tardia no Brasil, devido ao longo vínculo entre o catolicismo e o Estado Brasileiro, que só se encerrou no final do século XIX (1891). A abundância de denominações pode ser explicada pelos princípios sistematizados por Martinho Lutero, no século XVI, especialmente pela relativa liberdade na interpretação do livro sagrado e pela relação mais direta do homem com Deus – sem o intermédio obrigatório do clero.
O protestantismo chegou a Betim no começo do século XX. Consta que em 1917 foi aberto um salão de reuniões por um Sr. Ferreira (sem registro preciso do nome da congregação). Após um sermão do Padre Osório, houve um ataque de cerca de duas dezenas de católicos ao templo improvisado, destruindo-o. O líder protestante retirou-se da localidade e as denominações reformadas só vicejaram no município a partir da década de 40, quando foram organizadas as primeiras igrejas na Colônia Santa Isabel. No centro histórico de Betim, as igrejas reformadas começam a se organizar na década de 50.
O movimento protestante pode ser dividido em três momentos específicos: o protestantismo histórico, oriundo diretamente da Reforma européia; o movimento pentecostal do início do século XX, cuja principal característica é o resgate da experiência espiritual dos primeiros apóstolos, e o novo pentecostalismo, surgido no contexto das culturas de massa, em meados do século XX.
Para cada um desses momentos históricos, tomaremos uma grande comunidade religiosa de Betim: a Igreja Batista, a Igreja Evangélica Assembléia de Deus e a Igreja do Evangelho Quadrangular. Essa opção justifica-se pela grande diversidade de igrejas evangélicas hoje existentes em Betim. Apenas as filiadas ao COMPEB (Conselho Municipal de Pastores Evangélicos de Betim), isto é, aquelas reconhecidas pelas demais igrejas como satisfatoriamente institucionalizadas, somam quarenta e duas instituições.


 

 

Igreja Batista


Os batistas tiveram origem no movimento anabatista, cuja ocorrência histórica foi contemporânea da Reforma, no centro europeu. Os anabatistas eram gente muito pobre e simples e sua presença na Reforma particularizou-se pelo radicalismo em relação à liberdade de culto. Em função disso e de suas características sócio-econômicas, foram perseguidos pelos próprios cristãos reformados.
O movimento batista propriamente dito desenvolveu-se na Inglaterra, por volta do século XVII. Suas origens históricas contribuíram para as características posteriores do movimento, relacionadas à inerência da liberdade de consciência, da individualidade e da privacidade.
Os batistas, portanto, participaram da formação de um pensamento liberal e de conceitos universalizados pela burguesia apenas no século XIX. Suas igrejas defendem o “sacerdócio de cada cristão”, isto é, uma relação direta com Deus, e evitam a hierarquia: não há bispos ou líder universal, as igrejas são autônomas e referendam – ou não – seus pastores; busca-se também um afastamento em relação ao Estado, apesar da atual consciência de cidadania.
O culto batista é simples, sem hierarquia ou liturgia elaborada.
Ao contrário de outros grupos protestantes históricos, caracterizados por um certo elitismo expresso, por exemplo, na grande erudição de seus líderes, os batistas expandiram seu alcance e, sem partir para o popularesco, atuam principalmente entre as classes médias baixas.
Há grande diversidade entre as igrejas batistas. No Brasil, por exemplo, há duas grandes convenções[9] batistas e diversas igrejas independentes. As convenções são: Convenção Batista Brasileira, mais tradicional, ligada às concepções batistas históricas; e Convenção Batista Nacional, de concepção mais carismática, neopentecostal. Betim possui igrejas ligadas a ambas as convenções, e também batistas independentes.
Entre as igrejas batistas mais antigas de Betim, três já existem há pelo menos três décadas e se tornaram grandes comunidades. Suas respectivas histórias permitem conhecer as características mais caras aos batistas, com destaque para sua independência.
O primeiro grupo batista de Betim formou-se em 1958, tendo como pioneiro o Sr. Cornélio. Esse grupo, ligado à Igreja Batista do Bairro São Paulo, em Belo Horizonte, organizou-se ao longo dos anos 60, filiando-se em 1962 à Convenção Batista Brasileira, única existente na época. Seu primeiro pastor foi Domício Lírio da Rocha.
Em 1966, a CBB cindiu-se, devido à emergência de um grupo carismático, fundando a CBN. A Igreja Batista de Betim filiou-se à dissidência.
Um grupo dentre esses pioneiros batistas, descontente com a nova concepção adotada, afastou-se da igreja, fundando novo grupo filiado à CBB, que se instalou no bairro Angola e adotou o nome de Primeira Igreja Batista de Betim. Faziam parte desse grupo Claudomiro Luiz de Paiva, José Borges, Mantan Monteiro e Osias Avelino de Souza. Seu primeiro pastor foi Vanor Antônio de Castro, sucedido por Nestor Lopes da Silveira.
No início dos anos 70, dentro da Igreja Batista carismática, um grupo começou a discordar da liderança do Pastor Domício, passando a reunir-se independentemente. Logo recebeu o apoio da Igreja Batista do Bairro Inconfidentes, formando, em 1975, a Igreja Batista Nova Canaã. Seu pastor, Daniel Leite Fonseca, dirige a igreja desde 1977. Quando de sua chegada, a comunidade contava com 37 membros batizados.[10]
Faziam parte do grupo pioneiro de Nova Canaã: Matias de Souza Santos, Beatriz Vieira, Elzi Souza Lima, Onilda Romão Bezerra, Gravilina Vieira e Manoel Roberto de Lima.
Quanto ao primeiro núcleo batista, adotou o nome de Nova Jerusalém depois que o Pastor Domício foi substituído pelo Pastor Oromar.
Embora filiadas à CBN, as comunidades batistas Nova Jerusalém e Nova Canaã têm orientações distintas e poucas relações entre si. Isso se deve à autonomia das comunidades e à importância da liderança do pastor para os batistas.
Nova Jerusalém tem um templo central e diversas congregações no município, formando uma grande comunidade. Do ponto de vista das práticas religiosas, é uma igreja que observa o comportamento ou os costumes de seus membros.
Já Nova Canaã opta por não manter congregações e reúne sua comunidade no templo central, alimentando também células nos lares. Tem independência doutrinal quanto aos usos e costumes, pois sua liderança considera importante não imiscuir-se na vida pessoal de seus membros. Quanto a isso, toma como axioma uma máxima paulina: “Todas as coisas me são lícitas mas nem todas me convêm”.
A comunidade de Nova Canaã compreende-se em diferentes níveis: a linha de frente, isto é, aqueles que trabalham diretamente em prol do crescimento e unidade da igreja, os membros históricos e freqüentes, os participantes ocasionais e as instituições. Ao todo, a comunidade conta três mil pessoas, sendo dois mil membros regulares.
Nova Jerusalém e Nova Canaã cresceram provavelmente em função de sua opção carismática, mais afinada com as necessidades religiosas de muitos novos betinenses, chegados com a industrialização. Fenômeno semelhante, de crescimento dos batistas renovados, pode ser observado em outras grandes cidades industriais, como Anápolis – GO e Governador Valadares – MG.

Igreja Evangélica Assembléia de Deus

As Assembléias de Deus foram fundadas no Brasil, na primeira década do século XX, pelos missionários batistas suecos Gunnar Vingren e Daniel Bergman. Eles eram oriundos de um grupo batista renovado na Europa e seus princípios pentecostais não foram bem-vistos pelos batistas de Belém, Pará, onde se radicaram. Fundaram, portanto, a primeira denominação pentecostal existente no Brasil, levando consigo já alguns dos membros batistas, atraídos pelo avivamento espiritual que traziam.
A nova igreja teve grande crescimento entre a gente simples brasileira e já em meados do século era uma respeitável denominação. Além de basear-se nos princípios pentecostais, caracteriza-se pela estrita observância dos usos e costumes de seus membros e congregados, isto é, possui uma doutrina bastante específica, relativa por exemplo ao vestuário, à ética e às práticas culturais.
Do ponto-de-vista da organização institucional, as Assembléias de Deus possuem duas grandes convenções de pastores, sediadas no Rio de Janeiro. A primeira é a Convenção das Assembléias de Deus do Brasil, hoje presidida pelo Pastor José Wellington Bezerra, e sua dissidência é a Convenção das Assembléias de Deus do Ministério de Madureira (bairro da cidade do Rio de Janeiro), hoje presidida pelo Pastor Manoel Ferreira.
A hierarquia, praticamente inexistente entre os batistas, é fortemente observada pelas Assembléias de Deus. A liderança pessoal dos pastores é o principal fundamento político de sua organização e são estritamente observadas as diretrizes nacionais, estaduais, regionais e locais.
Das Assembléias de Deus surgiram também outras denominações pentecostais de grande expansão na sociedade brasileira, como a Igreja Deus é Amor, fundada pelo Pastor David Miranda, e a Igreja Brasil para Cristo, fundada pelo Pastor Manoel de Melo.
As Assembléias de Deus têm uma política de expansão interna – cada membro tem a responsabilidade de evangelizar e atrair novos convertidos – e externa, através de missionários. A convenção estadual de Minas Gerais mantém missionários em países tão longínquos quanto Bolívia, Paraguai, Argentina, Japão, Ucrânia, Guiné Bissau, África do Sul e Moçambique.
Em Betim, a primeira congregação das Assembléias de Deus fundou-se na Colônia Santa Isabel, em meados da década de 1950, sob a responsabilidade do Pastor Anselmo Silvestre, hoje presidente da convenção estadual. Evidentemente, o pioneirismo desta igreja na Colônia deveu-se ao fato de esta ter concentrado pessoas oriundas de vários pontos do estado, inclusive locais nos quais o protestantismo havia fincado raízes nas décadas anteriores.
Na Colônia, o primeiro dirigente das Assembléias de Deus foi o Presbítero[11] Sinobalino Pinto, hoje quase centenário e ainda membro da igreja. Fidelcino Martins (35111869) da Silva morou em Citrolândia e trabalhou na Colônia, como pastor residente, a partir de 1986. Antes disso, os pastores apenas atendiam a comunidade, morando, por exemplo, em Belo Horizonte.
No centro histórico de Betim, a primeira congregação das Assembléias de Deus fundou-se em 1958, pelo Pastor Anselmo Silvestre. Em 1959, contava cerca de 30 membros, entre os quais podem-se citar: José Egídio da Silva, Isaltino Egídio, Divino José dos Santos, Juvercino Teixeira de Carvalho, Maria Fragosa, Maria Custódia Alves, Juvenal Alves, Maria da Conceição Santos, William Batista e Vanda Alves Batista.
A congregação ocupou salões alugados nas proximidades da atual Escola de Mecatrônica, até 1963, quando recebeu um lote por doação na Vila Recreio – o próprio dono do loteamento, Jeremias Anoni Rizel, filho de membros da igreja, fez a doação. Havia uma “zona boêmia” nas imediações, o que é citado como uma experiência difícil pelos pioneiros da igreja. Estes lembram também as perseguições que sofreram na primeira década de atuação na cidade: ameaças, apedrejamentos, organização de procissões católicas nas proximidades dos locais de culto, entre outras.
Inicialmente, a igreja foi dirigida por presbíteros e diáconos, por seu caráter de congregação – comunidade ainda muito dependente de uma sede. Seus primeiros dirigentes foram José Augusto Gomes, Alcino Calu, Ari Ferreira Coelho e Oscar Augusto de Souza.
Na década de 70, já bastante grande, a igreja teve seus primeiros pastores, Euclides Morais Batista e Jair Suriba, que dirigiu a comunidade por dez anos. Em 1982, a liderança passou ao Pastor José Rodrigues de Araújo, que permanece no posto, hoje como pastor regional de Betim, São Joaquim de Bicas e Igarapé.
As Assembléias de Deus ligadas à CGADB (Convenção Geral das Assembléias de Deus do Brasil) são hoje 60 congregações em Betim, além da Sede, localizada na Vila Recreio. Seis mil e quinhentas pessoas são membros batizados, sendo que a comunidade inteira ultrapassa a marca de dez mil pessoas. E há ainda congregações ligadas à Convenção de Madureira.

Igreja do Evangelho Quadrangular

A Igreja do Evangelho Quadrangular foi fundada no Estado de Filadélfia, EUA, pela missionária Aimée Semple Mcpherson, em 1922, quando contava 32 anos de idade. Sua característica básica era o avivamento, isto é, a revalorização do batismo com o Espírito Santo, experiência primordial dos Apóstolos, e a defesa de que a mensagem do Espírito era quadrangular, isto é, baseada em quatro signos reveladores.[12]
Em razão de ter a fundadora nascido em uma tenda, a Igreja adotou a prática de reunir-se em tendas, ao invés de construir templos na tradicional alvenaria.
Da perspectiva da experiência espiritual, a Igreja Quadrangular se caracteriza pelo pentecostalismo e pela ênfase na cura divina. Do ponto-de-vista dos costumes, pode ser caracterizada como uma Igreja mais moderna, mas sensível à cultura contemporânea. Diferentemente dos batistas, que se adaptaram às novas demandas, a Quadrangular já nasceu num contexto pós-moderno, por assim dizer.
Sua fundação por uma mulher, bem como a presença de mulheres em sua hierarquia, é, por si só, um sintoma dessa experiência pós-moderna.[13] Trata-se de um fenômeno novo e pouco freqüente no cristianismo.
São outros sinais da contemporaneidade da Quadrangular o uso dos meios de comunicação de massa para a evangelização – a Igreja é proprietária de rádio FM em Minas e mantém programas na Rede Bandeirantes – e sua atuação explicitamente voltada para objetivos eleitorais. Algumas das maiores personalidades da Igreja, como Mário de Oliveira e Antônio Genaro, foram deputados repetidas vezes. A Igreja mantém coordenadores políticos, responsáveis pela conscientização para o exercício do voto e a reflexão sobre a importância de eleger evangélicos. Também são valorizadas as relações com os grupos políticos de cada comunidade.
A Quadrangular prescreve condutas para seus membros, porém sem o fundamentalismo que se manifesta, por exemplo, na correção da indumentária, em outras igrejas. Em razão disso, não há punições ou exclusões, exceto em casos extremos, como condutas condenadas pela moral secular (crimes).
Seu culto é simples, como os cultos protestantes em geral, baseado principalmente nos louvores, nas pregações e nos apelos para que as pessoas se convertam à doutrina, mas, nesta Igreja, também a dança e a expressão corporal em geral fazem parte da liturgia.
As Quadrangulares se organizam hierarquicamente, de maneira ascendente, com diáconos, obreiros, aspirantes e pastores. Dentro de cada unidades, grupos por idade e sexo organizam a atividade religiosa e a formação (crianças, jovens, mulheres, homens, casais). Do ponto de vista geográfico, as igrejas se organizam em regiões, estados e federação.
A Igreja Quadrangular chegou ao Brasil em 1951, pelas mãos do Reverendo Harold Williams, que denominou-a Cruzada Nacional de Evangelização e manteve a tradição das tendas. Seu maior líder atualmente é o Pastor Mário de Oliveira, pioneiro em Minas Gerais nos anos 70.
A Igreja chegou a Betim no início dos anos 70, realizando seus primeiros cultos ao ar-livre, nas proximidades da antiga Cerâmica Saffran e nas residências dos primeiros membros. Com a fundação da igreja, em 1973, passou a realizar cultos numa garagem da Av. Inconfidência, construindo depois seu primeiro templo, no próprio Bairro Morais.
Os líderes pioneiros na cidade foram os Missionários Elias Maia e Alaor Gaisler e, entre os primeiros membros da igreja, entre os quais muitos continuam atuando na região ainda hoje, contam-se: Diaconisa Maria Batista, Pastora Rosa, Maria Ferreira, Pastor José Afonso Alexandre (atualmente, atuando em Citrolândia) e Pastor Flávio (atualmente, em Florestal).
Em 2003, o número de templos da Igreja Quadrangular em Betim ultrapassa cem, dirigidos por cerca de cento e vinte pastores cuja superintendência fica a cargo do Pastor Daniel Itaborahí. Inclusive, em resgate das antigas tradições da Igreja, inaugurou-se em dezembro de 2000 uma tenda assemelhada às lonas de circo, na Praça da Brasiléia, sob a liderança da Pastora Marly Martins Itaborahí. Apenas aí, a Quadrangular já ultrapassa a marca de seiscentos membros.
A atuação social da Igreja dá-se prioritariamente no nível da assistência espiritual e do resgate de pessoas em situação de risco. Por essa razão, mantém, em Betim, a Casa de Recuperação de Portadores de Dependência Química DERJOVEM (Desafio de Resgate ao Jovem), no Bairro Granja São João.
A Pastora Marly Itaborahí, destacada dirigente da Quadrangular em Betim, titular da Tenda do Avivamento, Presidente da Casa DERJOVEM e do Conselho Municipal de Pastores Evangélicos de Betim, falou sobre a presença da mulher nas hierarquias evangélicas em Betim. Destacou, por exemplo, a dificuldade para que os demais pastores utilizassem o título “pastora” para se dirigir a ela e para que a convidassem aos púlpitos das igrejas. Atualmente, segundo a Pastora, as resistências diminuíram.
Também falou sobre as relações entre a Igreja Quadrangular de Betim e a política, especialmente sobre a delicada memória do ex-pastor e ex-vereador Antônio Paulino, primeiro líder Quadrangular a projetar-se na política local. Paulino foi acusado de práticas corruptas, teve seu mandato cassado, foi preso e, em função dos estatutos da Igreja, também perdeu o título de pastor.
Segundo a Pastora Marly, estes episódios foram dolorosos para a comunidade Quadrangular, refletindo-se, inclusive, no exercício político posterior. A comunidade entendeu que Paulino realmente incorreu nas falhas imputadas a ele e afastou-o da liderança, sem deixar de lhe prestar assistência espiritual e solidariedade. Doze anos após os fatos, Paulino está retornando ao posto de Pastor.
A Igreja, por sua vez, tem lançado candidatos nas últimas eleições, alcançando expressiva votação, e está na vanguarda das relações entre as igrejas evangélicas e as lideranças políticas locais, inclusive citando Carlaile Pedrosa como um prefeito sensível às demandas dos evangélicos.


Cultos Afro-brasileiros


Apesar de suas antigas raízes culturais na África e de sua grande complexidade e elaboração ritual, os cultos afro-brasileiros são pouco conhecidos dos leigos no Brasil. Denominados pejorativamente de “macumba”[14], são ignorados em sua diversidade e entendidos como manifestações do “mal” por terem sido forma de defesa e resistência dos povos submetidos à escravidão e à marginalidade no Brasil.
Os mais praticados e conhecidos cultos afro-brasileiros são o candomblé e a umbanda. O candomblé tem origem na religião do povo iorubá, que fazia parte do reino do Benin, no litoral centro-ocidental africano, por volta do século XV. Dali vêm os orixás adotados por praticamente todos os cultos afro-brasileiros.
O candomblé é uma religião pouco sincrética, fiel às suas raízes culturais, de intrincada liturgia e ritualística. São suas características a grande elaboração da indumentária e riqueza dos templos e cultos.
A umbanda é uma religião tipicamente brasileira, fundada no início do século XX, com expressiva adoção das práticas religiosas de diversos povos africanos, mas também sensível a influências religiosas orientais, principalmente indianas[15], e também nativas de solo brasileiro (indígenas e caboclas). A umbanda tem uma dissidência expressamente dedicada ao “mal”: a quimbanda.
Além da umbanda e do candomblé, há outros cultos afro-brasileiros, vários deles com representação em Betim: Angola, Keto, Jêge, Nagô, Umbandomblé, Moçambique, Congo, Vilão, Catupé.
Os cultos afro-brasileiros não são tão facilmente redutíveis a um modelo como as igrejas cristãs institucionalizadas. Como esses cultos são marginalizados, sua prática se dá um tanto subterraneamente, muitas vezes sem controle de federações ou confederações, ao sabor dos entendimentos individuais dos líderes ou comunidades particulares, altamente sincréticas e plásticas. E que isso não seja compreendido como algo negativo.
A Federação Espírita Umbandista de Minas Gerais mapeou 56 centros ou terreiros de vários cultos afro-brasileiros em Betim, no ano 2000. Destes, apenas 6 eram filiados à referida Federação. Apesar desta expressiva ocorrência, é difícil fazer uma história destes cultos porque seus líderes se furtam à divulgação entre leigos.
A razão pela qual os praticantes de cultos afro-brasileiros se mantêm na obscuridade não é desconhecida: esses cultos adquiriram, ao longo dos séculos, fortes ligações com o catolicismo. Grande parte de seus praticantes se declara católica e prefere manter as práticas não-cristãs mais escondidas embora, nem por isso, menos importantes.
Apenas para que se inicie uma história dos cultos afro-brasileiros em Betim, registram-se as informações prestadas pelo Pai-de-Santo umbandista Daniel Pereira da Silva, mais conhecido como Daniel Cigano, que mantém, desde a década de 80, o Templo Espírita Cristão Pai Antônio do Cruzeiro das Almas, hoje sediado no Conjunto Rubens do Pinho Ângelo, depois de passar pelo Santa Inês e pelo Filadélfia. O terreiro tem a chancela da Federação Espírita Umbandista de Minas Gerais.
Os orixás ou deuses cultuados no centro são os mesmos do candomblé e têm equivalência com divindades e santos cristãos: Zambi (Deus), Oxalá (Cristo), Ogum (S. Jorge), Oxossi (S. Sebastião), Xangô (S. Jerônimo), Iemanjá (Nossa Senhora), Iansã (S. Bárbara), Oxum (N. Sra. da Conceição Aparecida), Nanã, Cosme, Damião e Doum, além de outros orixás pouco conhecidos, como Ossaim, Bessém e Oroquê.
Logo abaixo, na hierarquia umbandista, estão os pretos-velhos, antigos escravos, que são patronos das casas de umbanda. São também reverenciados os caboclos (neste centro, o caboclo Serra Negra é o responsável pelo desenvolvimento das sessões), os erês (crianças), os boiadeiros e o povo da Bahia. Todos estes têm altares específicos no Templo do Pai Daniel, organizados em forma piramidal, abaixo dos orixás.
Os cultos seguem liturgias específicas, conforme suas finalidades. Uma sessão neste centro específico segue a seguinte liturgia: preparação do altar; banhos de descarrego tomados pelos filhos-de-santo participantes, cada um deles preparando o banho de acordo com seu orixá, preces (Pai Nosso e Ave Maria), prece do sacerdote intuitivamente criada, louvores (em língua portuguesa ou em línguas africanas), canto do anjo-da-guarda (o Ogam-Calofé, ou guarda do pai-de-santo, faz a chamada do anjo-da-guarda do pai-de-santo e, junto com os Ogãs-de-Atabaque, ou percussionistas, canta para a descida da entidade que vai reger a sessão).
O templo possui vários ambientes. Há o camarim, no qual o pai-de-santo realiza seus rituais preparatórios e também dá consultas particulares. Há o ambiente de maior acesso público, onde estão os altares (ndá), o abassé (círculo central onde o pai-de-santo incorpora as entidades e sob o qual está enterrado o segredo da casa, apenas conhecido pelo pai-de-santo), o abassá, área que circunda o abassé, onde ficam, durante o culto, os médiuns em desenvolvimento, e o estádio da assistência, onde ficam os demais participantes da sessão.
Outro ambiente é o Cruzambê das Almas, uma espécie de capela, onde ficam uma cruz, imagens dos pretos-velhos, de santos, como N. Sra. do Desterro, água e velas. Finalmente, tem-se a Creche do Exu, local mais resguardado do templo, onde ficam as imagens dos Exus e das Pombas-Giras. Todos são servidos, em média, a cada sete dias, com comida e bebida, ocasião em que se fazem também as orações de oferenda.
Os filhos-de-santo na umbanda passam por um processo de formação que dura 7 anos. A cada ano, ficam recolhidos no templo durante 72 horas, totalizando 504 horas. Cada período de recolhimento corresponde a um nível preparatório – como Amassi e Ronco – e, ao final dele, o filho-de-santo adquire um novo grau – como ialorixá ou babalorixá. No candomblé, essa preparação dá-se de uma vez: recolhimento de 21 dias.
O centro de Pai Daniel realiza duas sessões por mês, atendendo a cerca da 40 pessoas, mensalmente – público rotativo. O umbandista não precisa praticar com exclusividade este culto, razão pela qual há católicos e mesmo protestantes como freqüentadores. O sincretismo é bastante evidente nos termos próprios – usam-se tanto palavras africanas quanto a designação “médium”, mais presente no kardecismo – como na variedade das imagens e símbolos – cabeça de boi, caravela, coroa, imagens católicas, carrancas, animais, flores, brinquedos, espadas, berrantes, objetos de origem mística européia, etc.
Um dado curioso é a informação de Pai Daniel sobre o fato de solicitar, esporadicamente, que padres celebrem missas em seu templo. Esses cultos são sincréticos, evidentemente celebrados apenas por sacerdotes católicos que conheçam e respeitem a umbanda, havendo até casos em que o padre incorporou entidades da umbanda.
Finalmente, citam-se centros de cultos afro-brasileiros em Betim, mapeados com a ajuda de fontes orais: os mais antigos sacerdotes citados, já falecidos, são: Joaquim Nicolau, o ancestral das congadas em Betim, José Luiz (Petrópolis), Mãe Genica (Angola), a mais freqüentada em meados do século XX, Pai Sebastião Passos (Chácara), Pai Olímpio (Filadélfia); sacerdotes antigos, ainda vivos: Mãe Capitu (Salomé), D. Berenice Leal (Citrolândia, hoje transferida para outro município) e Sr. Tonico, proprietário da Casa Iemanjá, que hoje não mais atua como sacerdote, mas organizou, durante 7 anos, uma grande festa a Iemanjá, na Lagoa Várzea das Flores, com grande afluência do público. Sacerdotes atuais: D. Sebastiana (Santa Inês, 2ª Seção), Dalmo Martins (Petrópolis), Pai Ronei (Jardim Casablanca, hoje o mais luxuoso centro de Betim, freqüentado por gente da elite e de grande público), Mãe Cida (Cidade Verde), Pai Moreira (N. Sra. das Graças), D. Maria do Pimenta (Angola), D. Toninha (Angola), Paulo Cotia (Citrolândia).
Pesquisa acadêmica realizada nos anos 90 por Patrícia Brito deu conta de que muitos betinenses freqüentavam centros de cultos afro-brasileiros em Esmeraldas, como forma de manter suas práticas religiosas ocultas de seus conhecidos.

Espiritismo


O espiritismo designa-se a si mesmo como um campo de estudos, uma filosofia e uma moral.[16] Foi codificado em um corpus de textos, pelo Professor Hyppolite Léon Denizard Rivail, sob o pseudônimo de Allan Kardec, ao longo da segunda metade do século XIX.
Sistematizado em pleno auge da ciência experimental (século XIX), o espiritismo optou por não se fundamentar apenas na fé, como outras grandes revelações da transcendência humana. Começou, não pela manifestação de uma mensagem, mas pela observação de fenômenos ditos espirituais bastante freqüentes nos Estados Unidos e na Europa em meados dos anos oitocentos porém, segundo os espíritas, sempre presentes na experiência humana.
O Prof. Rivail, segundo a literatura espírita inicialmente um cético em relação aos fenômenos espirituais, foi se convencendo de sua realidade porque estes se prestavam aos métodos científicos então tidos em extrema estima, a saber a observação, a experimentação e a classificação.
Os espíritas prezam muito este caminho intelectual de acesso às manifestações extra-materiais. Parece que a fé, pura e simplesmente, é insuficiente para sustentar a vivência da dimensão espiritual humana num mundo que tem a razão como um dos seus pilares, como é o caso do mundo ocidental desde o século XVIII. Em conseqüência disso, também, os espíritas possuem uma prática diferenciada da maioria das religiões: evitam o aparato litúrgico e o apego a objetos, procurando investir na experiência espiritual íntima e sem muitos intermédios.
O espiritismo entende-se a si mesmo como uma terceira grande revelação da divindade ao mundo ocidental, tendo sido precedida pelo Judaísmo de Moisés e pelo Cristianismo.[17] Insere-se ainda no próprio Cristianismo, tendo a Cristo como um mestre para quem a existência do mundo espiritual era um fato.
A Bíblia e os mais fundamentais princípios judaico-cristãos são respeitados pelos espíritas e constituem sua herança, com especial valorização dos Evangelhos. Mas algumas de suas formulações ultrapassam essa secular ortodoxia. A imortalidade do espírito é uma crença compartilhada entre os espíritas e as grandes religiões ocidentais. Entretanto, os espíritas refletem especificamente sobre a vida dos espíritos independentemente de seus corpos físicos, isto é, sobre como se verifica sua existência na eternidade.
Crêem que todos os espíritos são criados simples e ignorantes pela divindade e que o sentido de sua existência é a busca da perfeição e da felicidade. Para isso, vivem alternadamente encarnados e desencarnados, sendo a encarnação uma condição para o aperfeiçoamento. Enquanto desencarnados, levam uma vida muito semelhante à vida terrena, apenas numa dimensão diferente da física, isto é, de forma incorpórea. As encarnações podem ocorrer não só na Terra mas também em outros mundos habitados.[18]
Há um momento no desenvolvimento de cada espírito em que este não mais precisará encarnar-se. Virá ao mundo físico apenas a trabalho, como crêem os espíritas que ocorreu principalmente com Cristo, mas também com outros iluminados.
Além da crença nas encarnações sucessivas, defendem que toda ação do espírito provoca reação. Isso se traduz basicamente na crença de que, se um espírito causa algum prejuízo a outro espírito ou ao ambiente, terá de reparar esse prejuízo de alguma forma.
Segundo o espiritismo, todas as pessoas, em maior ou menor grau, podem perceber as manifestações do mundo espiritual. Aquelas que possuem especial sensibilidade são médiuns, ou intermediárias entre o mundo espiritual e o mundo físico. A mediunidade precisa ser conscientemente desenvolvida.
Visto que os espíritos tendem todos ao aperfeiçoamento e à prática do bem para a felicidade geral, ainda que alguns se encontrem em estágio evolutivo distante deste ideal, ou em estado de sofrimento, o espiritismo, enquanto movimento, tem intenso compromisso com o cuidado social – a caridade, a assistência, a solidariedade tanto com os espíritos encarnados quanto com os desencarnados. A prática do cuidado faz parte do processo de aperfeiçoamento de cada espírita.
É evidente que o entendimento da doutrina não é algo que ocorra de maneira idêntica para todos os grupos ou indivíduos espíritas. E como a pureza doutrinal é uma preocupação dos espíritas, tanto que não há dissidências entre suas instituições[19], o estudo é uma das atividades mais regulares entre seus grupos. Uma abundante literatura[20] de divulgação acompanha as obras básicas do espiritismo[21], sendo esta uma maneira de manter uma unidade entre os grupos.
Betim possuía, em 2003, cerca de quinze casas espíritas, entre as quais identificamos, através da AME – BETIM (Aliança Municipal Espírita de Betim), as seguintes: Associação Espírita André Luiz, Casa de Oração Bezerra de Menezes, Centro Espírita Campos Vergal, Centro Espírita Irmão Francisco de Assis, Fraternidade Espírita Esperança, Fraternidade Espírita Eurípedes Barsanulfo, Grupo Espírita Amor e Família, Grupo Espírita Irmão Gorich, Grupo Espírita O Semeador, Núcleo Assistencial Espírita Glácus e Sociedade Espírita Maria de Nazareth. Há ainda a casa Irmão Flores, sediada em Citrolândia. Estas casas são filiadas à União Espírita Mineira.
A maioria das casas encontra-se nos bairros centrais de Betim, o que talvez indique uma composição social de classe média, ao menos entre os grupos mais ortodoxos, isto é, comprometidos com a “pureza doutrinal” espírita. Os nomes das casas geralmente fazem referência aos espíritos adotados como patronos, sendo que o reconhecimento do espiritismo em relação a grandes cristãos também aparece nas denominações.
Interessante refletir sobre a abrangência numérica dos grupos. Alguns líderes de casas espíritas indicam que seus grupos contam entre trinta e sessenta membros assíduos. Até mesmo o caráter de estudo e de desenvolvimento individual no interior dos grupos aponta a necessidade de limitar sua expansão, embora isso não seja uma intenção dos espíritas. Estes apenas esclarecem que não fazem proselitismo, isto é, a ação destinada a converter mais e mais pessoas, apesar de se alto o número de pessoas com as quais os espíritas desenvolvem reflexão e ações de assistência.
A primeira casa espírita betinense foi o Centro Espírita Campos Vergal, sediado na Colônia Santa Isabel em rua, não por acaso, denominada Allan Kardec. Esta casa foi fundada em 1947 por trinta espíritas, sendo sua primeira diretoria: Francisco Mori, presidente; Gabriel Francisco Soares, vice-presidente; José Lino de Almeida, secretário e João Batista Costa, tesoureiro. Possui um forte caráter beneficente, muito provavelmente em função do contexto em que firmou sua existência, uma colônia de hansenianos na qual a assistência social tornou-se forte prática.
É provável que a fundação de uma casa espírita tão precocemente em Betim – se considerarmos as datas de fundação de outras casas – deva-se ao fato de que a doutrina espírita oferece uma explicação para a condição dos portadores da hanseníase, especialmente para a situação de segregação social em que se encontravam, além de um alento para as dificuldades cotidianas.
Campos Vergal, o patrono da casa, paulista, foi funcionário da justiça, deputado estadual e federal, escritor e destacado espírita entre 1903 e 1980.
Na década de 1970, a vocação literária espírita manifestou-se na casa Campos Vergal através da fundação de um jornal, O Gorjeio, aberto a quaisquer orientações religiosas e destinado a registrar aspectos relevantes da vida na Colônia. No número inaugural do periódico (dez 1970 – jan 1971), o então presidente da casa Campos Vergal, João Batista da Costa, falou sobre a importância dos serviços assistenciais da instituição, que mantinha farmácia para distribuição gratuita, além de atender materialmente 123 famílias.
Apenas em 1981 surge a primeira casa espírita do centro histórico de Betim. Foi a Associação Espírita Betinense, fundada a 05 de julho e inicialmente dirigida por José Leonardo Gomes, o Piu. Foram fundadores desta casa, além do próprio José Leonardo Gomes, Osvaldo Rodrigues Pereira, Nelson da Silva Melo, Matozinhos Bernardo de Oliveira, Clermont Martinelli, Agostinho Bento Lara, Maria Geralda de Oliveira, Joana D’Arc de Oliveira, Antonio Nascentes de Azevedo e Luzia Gomes Zevallos Del Barco.
A reunião de fundação do grupo deu-se em sala cedida no prédio do CETAP. A seguir, a Associação Espírita Betinense alugou sede no bairro Brasiléia, onde permaneceu até o início dos anos 90, quando inaugurou sede própria, no Bairro Santa Inês, construída em terreno doado pela PMB na segunda gestão de Osvaldo Franco.
Em 1993, o grupo teve seu nome mudado para Associação Espírita André Luiz (nome do patrono do grupo, médico em encarnação passada). Atualmente, são trinta os membros freqüentes do grupo.
Entre as casas espíritas betinenses, é possível verificar alguma especialização em determinadas atividades decorrentes da opção pelo espiritismo. Na Fraternidade Espírita Esperança, por exemplo, o desenvolvimento da mediunidade e a assistência espiritual a encarnados e desencarnados é muito forte, o que não ocorre com a casa Bezerra de Menezes, mais dedicada ao estudo da filosofia e da doutrina. Outras casas dão ênfase ao trabalho social, como é o caso da Glácus, que mantém uma creche, e da Gorich, que investe no atendimento aos doentes.

Hinduísmo


Betim conta com a presença e atuação de uma importante ordem hinduísta, a Ordem Ramacrisna. Ramacrisna foi um grande mestre indiano, monge, e sua ordem é importante na Índia, tendo também se instalado no Brasil.
O responsável pela instalação da Ordem Ramacrisna em Betim, com a fundação de uma instituição de assistência à infância, foi o Swami Arlindo Correa da Silva.
A Missão Ramacrisna manteve um orfanato em Betim, na região de Vianópolis, durante as décadas de 70 e 80, até a vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente, que extinguiu os internatos. Entretanto, a Missão continua realizando um trabalho social na comunidade, especialmente com a infância.





[1] Códice APM – “Avulsos” Delegacia Fiscal, nº 69, 5º livro do Terceiro Contrato da Comarca do Sabará.

[2] Manuscrito “Visitas pastorais de Dom Frei José da Santíssima Trindade, 1821-1826”. Arquidiocese de Mariana.

[3] Sociedade Pia – Paróquia de Betim, Livro I, Arquidiocese de Belo Horizonte.
[4] FONSECA, Geraldo. Origens da nova força de Minas, p. 160.

[5] Durante o período colonial, todos os habitantes procuravam filiar-se a alguma comunidade ou irmandade católica, pois só assim teriam acesso aos ritos sócio-religiosos básicos, como os registros de nascimento, casamento e óbito, bem como acesso a uma sepultura cristã digna, visto os cemitérios estarem localizados nos terrenos religiosos. As irmandades eram também grupos de poder e, não raro, competiam entre si através da construção de templos majestosos, dos quais temos exemplares frente-á-frente ou lado-á-lado nas chamadas cidades históricas brasileiras. Também os negros sentiam necessidade de organizar irmandades, ainda que preservassem cultos africanos, de maneira sincrética, sob o disfarce do culto católico. Há notícias de irmandades negras desde o século XVI em Portugal e, no Brasil, elas se organizaram principalmente ao longo do século XIX.

[6] D. Djanir Arantes Aguiar, em seu livro “Cantos do Mundo: viagens, histórias” (Belo Horizonte: Cultura, 2000, pp. 60 e 61) diz que Padre Osório, dias antes de morrer, pediu a ela que cuidasse da preservação da velha igreja e do cemitério. Após a demolição, a autora do livro teria tido uma visão nas proximidades da Praça Miltom Campos (uma procissão de cabisbaixos) e interpretou isso como uma queixa de Padre Osório por ela não ter podido defender o velho templo.
[7] Os franciscanos se ressentem dos rumos tomados pelo Salão, inclusive pelo fato de que a entidade jurídica SASFRA, por eles criada, hoje não mais lhes pertence. O frei Estanislau Bartholdy, fundador do Salão com D. Noemi, prefere calar-se a respeito, para preservar boas relações com esta senhora, mas outros franciscanos, como Frei Pedro e Frei Patrício, falam abertamente do “caráter empresarial” que caracteriza o empreendimento e criticam os preços de seus produtos. Há um recalque da memória local em torno das origens do Salão... Coisas indizíveis, ou discutidas para permanecerem em off. É daqueles pontos mal-resolvidos que precisam do tempo para serem reelaborados. E D. Noemi é uma construtora de memória com mais poder...

[8] Ocupação popular ocorrida no início dos anos 60, que depois consolidou-se com o nome de bairro Olhos d’Água (por causa dos muitos lagos da região próxima da antiga barreira da Polícia Rodoviária Federal).
[9] Instituições constituídas por representantes das comunidades (pastores), que tomam decisões para o conjunto.

[10] Os batistas, como os protestantes em geral, só batizam seus fiéis nas águas quando, já adultos, eles optam por isso.

[11] As Assembléias de Deus adotam um sistema de cargos de liderança cuja denominação deriva da organização das primeiras igrejas fundadas pelo apóstolo Paulo. Em ordem ascendente, os cargos são: diácono, presbítero e pastor, sendo que entre os dois últimos pode inserir-se o evangelista, líder destacado que, ao invés de responsabilizar-se por uma comunidade, caso do pastor, trabalha diretamente na expansão da igreja.

[12] Estes signos teriam sido revelados no livro do Profeta Ezequiel: quatro querubins com rostos de homem (o Salvador), boi (o Batizador com o Espírito Santo), leão (o grande Médico) e águia (o rei que há de voltar), respectivamente.

[13] O feminismo é um fenômeno pós-moderno.

[14] Macumba é o nome de um instrumento musical utilizado em certas regiões da África para invocar divindades. Quase não há “macumbeiros”, isto é, quem saiba tocar macumba...

[15] Seu nome é de matriz indiana: AUM BHANDA.

[16] Em outras palavras, ciência, filosofia e religião. A palavra moral seria mais adequada do que religião porque se refere especificamente à prescrição de como devem ser aplicados os princípios filosóficos espíritas.

[17] Há, também, evidentemente, outras revelações da divindade em diversas partes do mundo.

[18] Os espíritas crêem na pluralidade dos mundos habitados e também numa certa hierarquização dos níveis de desenvolvimento destes mundos. Haveria mundos mais próximos da felicidade do que a Terra.

[19] Há grupos espíritas mais especializados em uma ou em outra atividade, o que decorre do entendimento da doutrina, mas os grupos são tolerantes com a diversidade, havendo apenas uma Federação Espírita Brasileira, por exemplo.

[20] Essa opção, entre as linguagens comunicativas disponíveis, pelo texto escrito, em sua forma “livro”, pode ser entendida como um sinal do compromisso iluminista espírita: uma crença na leitura como forma de iluminação, de acesso ao conhecimento.

[21] Escritas por Kardec, essas obras podem ser designadas como o “Pentateuco” dos espíritas, e são: O Livro dos Espíritos (1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865), A Gênese (1868).


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