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The festival

Written By Ana Claudia Gomes on sexta-feira, 5 de janeiro de 2018 | 14:59

Manifesto Gathering 17/18.

Fiz minha virada de ano em um festival de música eletrônica. Vi lá poucos pares de idade, mas uma das personalidades mais queridas da gente ali reunida parecia ter bem mais primaveras que eu. A maioria absoluta tinha vinte ou trinta, constituindo, ao meu olhar de três dias, efetivamente uma comunidade contemporânea. A interação espontânea indicou estar ali presente uma rede, como a concebemos atualmente, unida por relacionamentos recíprocos e uma sensível apreciação da música eletrônica.
Sinceramente, minha referência de festivais era Woodstock, dos livros, documentários, das fotos. Senti algo revival ali, uma genuína manifestação da ética de uma verdadeira tribo de nossos tempos.
Como em Woodstock, apesar de todos os esforços da coesa equipe organizadora, havia problemas de infraestrutura. Mas todos lidávamos com isso em solidariedade compreensiva, muitos com bonita criatividade.
Que visão foi para mim a vila chamada camping. É claro, na minha ética, o primeiro pensamento foi uma foto. Mas nem de câmera estava e sempre caminhava entre as barracas, curtindo as vielas, as varandas, as bandeiras, os companheiros que montaram suas habitações em círculo.
À pista, eu cheguei assim como quem pisa a beira d'água não sabendo nadar. Admirei a diversa expressão dos corpos, a beleza, a desenvoltura. Reverenciei aqueles meninos deejays tão geniais em suas manobras para além da marcação rítmica e que ficavam quase escondidos num palco bordado à forma de nave. Feito a flutuarem com ela no espaço, como de fato estamos.
Só mesmo para a meia-noite sagrada é que pisei com coragem a pista e deixei a música me atravessar, pois tivera longo aprendizado. Quando vieram os fogos, foram lindos, discretos e eu diria silenciosos.
A pista não parou por isso nem houve mais cerimônia. A comunhão tivera início muito antes e não pretendia terminar.
Afora isso, fiz minhas observações à guisa de sociologia, a crítica ainda e sempre marxista, e como pessoa que bebe em várias tradições de sabedoria, reverenciei a lua como símbolo de tudo o que há conosco no universo.
Houve quem abraçasse árvore ou tomasse um gole. Para além de toda a limitação da condição humana, é bela a sua diversidade.
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