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O primeiro porre

Written By Ana Claudia Gomes on quinta-feira, 20 de setembro de 2018 | 05:46

Tia Rai

Contam minha tia Rai e minha mãe, Conceição que, quando crianças, formavam um par de irmãs companheiras e brincavam de comadres. Como elas dizem, regulavam idade.
Tia Rai era da pá-virada, a líder. Minha mãe se esmerava em não desobedecer os pais. Mas era normal experimentarem vivências fora do cotidiano, especialmente com mantimentos escassos para aquela família.
Uma dia resolveram brincar de comadres, fazendo uma bebidinha especial. Misturaram água, açúcar e um pouquinho do álcool, bem guardado no armário de minha avó.
Ao primeiro gole, pareceu-lhes uma delícia. Mas os irmãos Raimundo e Joaquim, que também regulavam idade e estavam em casa enquanto os irmãos mais velhos trabalhavam, também queriam brincar de compadres.
Tia Rai, esperta, preparou uma água com sal para os irmãos e, durante a brincadeira, ela e minha mãe experimentavam sua bebida dos deuses e fingiam: nossa, comadre, mas que água salgada! E assim enganavam os irmãos, que muito reclamaram do sal na água.
Não deu outra. As duas ficaram de porre.
Riam a não mais poder, dançavam... Havia uma cava, uma semi-caverna, nas proximidades da casa, de onde rolavam uma depois da outra. Foi um tendepá.
Tia Lia, a irmã mais velha, chegou do trabalho e viu aquela anarquia. Desconfiou imediatamente. Foi ao armário de minha avó e viu que meio frasco do álcool se fora. Avisou logo que contaria à minha avó e que as comadres apanhariam.
Minha mãe já se recolheu em casa, como sempre fazia à ameaça de apanhar. Preferia acabar logo com aquilo. Tia Rai preferia se esconder nos arbustos próximos e adiar ao máximo, para ver se meus avós desistiam da coça.
Mas foi como sempre. Minha avó chegou, recebeu os relatos e aplicou o corretivo em minha mãe. Tia Rai, só muito depois da resistência. Mas tomou seu corretivo também.
A surra ficou como lembrança comum. O que as faz rir mesmo, até não mais poder, é o  porre de água salgada para os irmãos e de diversão para elas mesmas. Nos encontros de família, essa história está entre as mais relatadas, sempre com novos detalhes alegres.
Tia Lia não gosta de ter lembrado seu papel de irmã quase mãe. E eu fico pensando como é que ainda não tomei um porre na vida...
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