Mineirana

Written By Ana Claudia Gomes on quarta-feira, 25 de março de 2015 | 16:10

É um privilégio você ser da Bahia e de Minas Gerais. E de outros lugares do Brasil também. Mas principalmente da Bahia e de Minas Gerais. Das sacadas dos sobrados da velha São Salvador. Das sacadas dos sobrados mais jovem Ouro Preto.
Contou-me Conceição que tendo vivido muito tempo nesses dois lugares. Você por exemplo vai se perguntar à hora do angelus. Hoje vou jantar ou tomar café?
E vai refletir demorado antes de decidir. Porque há os maravilhosos jantares mineiros. E os maravilhosos cafés baianos de anoitecer.
Hoje em dia há quem tenha sabiamente aprendido. Com os povos indígenas creio eu. Que é melhor nada comer depois do pôr-do-sol. 
Mas mineiro se desobedece os indígenas janta. Baiano toma café da noite.
Os jantares mineiros costumam ser almoço requentado. Arroz. Feijão. Angu sem sal obviamente. Alguma folhagem escura do quintal ou do sacolão. Serralha, mostarda, couve, almeirão. Alguma carne. Pois terá que ser cada vez menos. Frango melhor ainda quando caipira. Bife. Costelinha. 
Agora requentado costuma ficar melhor. Dá um soberbo mexido. Os mineiros dizem que apura o sabor. E realmente o alho dos mineiros.
Já os cafés da noite baianos sei deles por Conceição. 
Têm café. Leite. E devem ter achocolatados. Têm fruta-pão cará ou inhame. Mandioca cuzcuz tapioca beiju. Bolo de macaxeira ou de massa-puba. 
Banquetes especialmente feitos se você visita uma casa baiana. Segundo me conta Conceição. No dia a dia versão mais simples. Porém ancorada no mesmo conceito.
Imagina que você pode. À hora do angelus. Fazer essa escolha. 
Por isso eu quis dar a Conceição esse codinome Mineirana. Uma mistura de mineira com baiana. Ela é nascida em Minas e conheceu muitas Bahias. Pelo menos uma de Caetano e Bethania, ela conheceu.
Quando vai à Bahia ela sempre passa em Cruz das Almas. Lá havia o mercado de farinha mais lindo que ela já viu. 
Conceição volta dizendo o quanto se encanta com o trânsito soteropolitano. Pelo menos nos lugares onde ela passou os condutores levavam seus veículos a sessenta por hora. Sem buzinas. Parecia um coral.
Conceição ainda me conta que encontra em Minas sua amiga Margarida. E eu acho que ela preferiria o codinome Baiana. Margarida nasceu na Bahia e vive há muito tempo em Minas Gerais. Se Conceição quer tomar café da noite, basta pedir a Margarida. E lá há banana-da-terra cozida. Mungunzá. O angelus é hora de comunhão. E ela vivendo em Minas. Mantém o dialeto natal. Respeita ao máximo seu modo baiano de ser.
Mas Margarida. Se vai à casa de Conceição ou de qualquer outra mineira. Se tem janta janta.
Deve ser realmente um privilégio ser essa mistura de mineira com baiana ou de baiana com mineira. Eu que nem mineira nem baiana sou. Já fico abestalhada com a escolha da hora do angelus.




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