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Cineclube Casandanti - O filme da minha vida (BRA, 2017)

Written By Ana Claudia Gomes on segunda-feira, 25 de agosto de 2025 | 11:50


 

Ficha técnica


Direção: Selton Mello


Direção de Arte: Claudio Amaral Peixoto


Trilha sonora: Plínio Profesta e Gustavo Montenegro


Fotografia: Walter Carvalho


Elenco: Vincent Cassel, Selton Mello, Bruna Linzmeyer, Bia Arantes, Johnny Massaro, Antonio Skármeta, Ondina Clais, Rolando Boldrin, Martha Nowill, João Prates e Erika Januza.


Roteiro: Selton Mello e Marcelo Vindicatto


Edição: Marco Nishimoto


Sinopse: Tony (Johnny Massaro) é um jovem recém-licenciado em francês, que retorna à casa de seus pais na fictícia cidade de Remanso, na Serra Gaúcha, próxima de Fronteira, em 1963. Ao chegar, vê que seu pai está se indo embora, presumivelmente de volta à França, sua terra natal. Começa a vida como professor e enfrenta grande dor pela partida do pai e solidão da mãe, percorrendo os caminhos do amadurecimento, de forma que o filme aborda um rito de passagem.



Informações complementares


Baseado no livro Um pai de cinema (Un padre de pelicula), do chileno Antonio Skármeta, que viveu no Brasil e é um apaixonado pela cultura brasileira. Skármeta é que ofereceu a história para ser filmada por Selton Melo, após se deparar com sua sensibilidade em O palhaço.


Terceiro longa-metragem de Selton Melo, após Feliz Natal (2008) e O palhaço (2011).


Metalinguagem – Faz referência aos filmes Amacord (na temática familiar e amadurecimento do personagem principal) e Rio Vermelho (com o conflito entre pai e filho, interpretados por John Wayne e Montgomery Clift). O cinema é tratado dentro do cinema.


A ideia fixa de saber por que o pai foi embora sem deixar nenhum rastro e sem explicar fará o jovem professor viver momentos de angústia e procrastinar a vivência do presente.


Sendo um filme de época, o conflito central fica muito mais aceitável (cultura dos anos 1960).



Valores


Direção: aplica planos de contexto (visão sobre os cenários) em objetos ou no ambiente natural, trazendo beleza e poesia.


A fotografia de Walter Carvalho é um espetáculo à parte, dando a sensação de pinturas em movimento. Ele é sempre citado como um mestre e Selton Mello escolheu perder um pouco na velocidade e no aprofundamento do enredo, para dar-lhe espaço, com resultado que acentua a nostalgia e a poesia que se pretendia para a obra. Dá a sensação de película e de projeção em rolo. Destaca um sépia levemente dessaturado, que contribui para dar a sensação de filme de época, tons pasteis, tendo como tom forte apenas o vermelho. Prioriza o primeiríssimo plano e, logo em segundo lugar, o plano-detalhe. Os planos gerais também atuam no sentido de valorizar as lindas locações. Os close-ups conversam diretamente com cada personagem. As tomadas estáticas valorizam o movimento de cena e a teatralização dos atores e a competente direção de arte, dando tempo para que analisemos com calma toda a organização.


Edição inteligente.


Trilha sonora magnífica, com boa orquestração de Plínio Profeta e escolha de belas canções licenciadas, por Gustavo Montenegro, como I put spell on you, The house of de rising sun, Coração de papel (Sérgio Reis), Hier Encore (Charles Aznavour) e a ópera Carmen.


Dá muito tempo para os principais personagens se mostrarem.


Simbolismos: diversos símbolos da passagem do tempo, como o cinema, o rádio, a televisão, a bicicleta e o trem.


Boa parte da poesia intrínseca à abordagem de Selton Mello encontra-se em sua linda compreensão acerca da natureza da memória e como ela é ao mesmo tempo prisão e liberdade.


Excelente direção de arte, que explora cenários e figurinos (Kika Lopes), contribuindo para caracterizar o clima de época. Por exemplo, no quarto de Petra há um pequeno altar às vitórias da moça em concursos de beleza que constitui um elemento narrativo muito eloquente.


O elenco é um acerto à parte. Johnny Massaro tem uma inocência e um olhar puro que poucos atores conseguiriam trazer à tela. Selton Mello é brilhante ao interpretar Paco como um homem que simultaneamente exala gentileza e ameça. Ponto alto é quando ele explica a diferença entre o homem e o porco. Luna (Bruna Linzmeyer) tem uma beleza vintage perfeita para o papel, tanto por este atributo quanto por conferir a leveza e a sensualidade que o papel pediu. Rolando Boldrin é um excelente resgate de Selton Melo, brilhando na interpretação, como aconteceu comPaulo José em O palhaço.



Fragilidades


Foco em personagem com linhas cômicas excessivas (Augusto), que provoca certa saturação no espectador.


Escanteamento da personagem Sofia (Ondina Pais), a mãe, que não tem espaço para crescer no roteiro.


Má revelação da verdade sobre Petra (Bia Arantes), que é negativizada e estereotipada e não tem respaldo narrativo.


Desvio de comportamento de Tony nas cenas finais, dando a impressão de que existe um buraco de eventos não mostrados que permitiram a ele se tornar confiante e marcar território de diversas formas, o oposto da timidez e contemplação que carregara até então (falha do roteiro).


Nicolas (Vincent Cassel), o pai, é mostrado como o bonzinho da história, que fez sacrifício para preservar o nome da esposa.

O filme se arrasta um pouco até encontrar fluidez. Mas o condutor do trem, interpretado por Rolando Boldrin, diz que, “se adiantar o tempo das coisas, o trem sai do trilho”

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