Eram vésperas das eleições. Estava Lorena na feira de artesanato da cidade. Buscava ver o belo, ouvir o belo. Sons das descrições dos objetos pelos artesãos, burburinho da multidão, música ambiente. Queria espairecer.
De repente, um ruído alienígena. Passava um carro de som pela praça, fazendo a campanha de um candidato a deputado.
Normalmente Lorena, com um muxoxo, lamentaria um som tão descontextualizado. E abstrairia.
Mas não deu. Do alto-falante, vinha a voz do candidato dizendo o quanto faria por "nossa cidade", e dava o nome da cidade vizinha!
Lorena estatelou. O burburinho da multidão foi tomando forma, fazendo soar queixas contra o candidato que pedia voto numa cidade, discursando em prol da outra. Que ia fazer teatro, que ia melhorar a infraestrutura, que ia trazer o progresso econômico... Tudo o que não está nas atribuições de um deputado. E que seria feito na cidade vizinha!
A multidão na praça era zen. Queixou-se, mas sorria e fazia sinais irônicos ao motorista do carro de som que, ouvindo através de um fone os sons de seu dispositivo móvel, pode ser que nem soubesse que discursos estava reproduzindo em seu alto-falante. Pode ser que estivesse ouvindo o Ednardo. O candidato pouco se lhe dava.
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