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A nova revolução dos bichos

Written By Ana Claudia Gomes on sexta-feira, 24 de abril de 2015 | 17:27

Houve uma floresta em que os bichos se passavam por humanos. É que alguns bichos humanos haviam entrado na floresta, sendo imediatamente rechaçados porque desconhecidos. Mas os bichos florestais ficaram encafifados com aqueles estranhos alienígenas. E como estes viviam nos arredores, passaram a ser muito observados pelos bichos florestais.
Foi então que nasceu a moda de se passar por humano. Alguns bichos se esmeravam tanto, que não abriam mão dos talheres de prata, das baixelas e dos vincos nas mangas das camisas. E havia tanta coisa a copiar dos humanos, que a moda parece que nunca passava. Tinha a coleção outono-inverno, tinha o hábito de se vestir como os pop stars humanos. Uma coisa. Nunca passava.
Aparentemente, todos os bichos já estavam mesmo convencidos de que eram humanos.
Surgiu então um bicho-alienígena. Quem? Ah, claro que tinha de ser o bicho-preguiça. Era demais para ele acompanhar todo o movimento fashion. E começou a ficar demodê. Naquela época, não estava na moda entre os humanos ser demodê.
Bicho-preguiça começou a ouvir uns risinhos abafados por onde passava. Não entendeu, deixou pra lá. Mas a coisa foi aumentando. Chegou ao ponto de haver assembleia na clareira, onde se fizeram inflamados discursos contra os hábitos inumanos do bicho-preguiça. Jogavam pedras na casa do pobre bicho. Colocavam obstáculos para que ele se movesse ainda mais devagar, Teve também o desfile brega, imitando as velhas roupas do bicho-preguiça.
Como o bicho-preguiça ficou com uma preguiça danada daquela zoação, ele começou a fingir que nada estava acontecendo. Participava da zoação. Quando era possível, dava uma zoadinha também.
Os bichos florestais perderam a linha. Onde já se viu um improdutivo, um imprestável daqueles, ainda de nariz empinado? Foi necessária nova assembleia na clareira para definir que tipo de sanção deveria ser aplicado a um anormal como o bicho-preguiça. Discutiram tudo o que observavam ser praticado entre os humanos. Pena de morte, prisão perpétua, redução da maioridade penal (porque o bicho-preguiça, ainda por cima, era de menor), descartaram de imediato a proteção aos réus primários, foi uma balbúrdia.
Mas no fim, eles acharam mesmo é que o bicho-preguiça não merecia nada assim tão humano. Arrumaram um bicho-capanga, que disse: que nada! Deixa com nois que vai ser o berro.
Bicho-preguiça apareceu morto no meio da trilha. Os estudos policiais florestais concluíram que havia sido bala-perdida. Não houvera testemunhas.

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