Filtro de sonhos

Written By Ana Claudia Gomes on sábado, 11 de abril de 2015 | 11:53

Imagem: Fotografia Betim.


O bom de contar histórias é que são admitidas tantas variações de um belo tema quantas se quiser. Esta, conto de ter ouvido. Mas, tendo ouvido há muito tempo, cimentei-a com imaginação.
Eu comprei um filtro dos sonhos de um dreadlocker que vivia numa cidade celestial. Primeiramente, pela história que o Thomaz me contou quando eu quis saber que misterioso objeto era aquele.
Thomaz é dessas pessoas que têm todo o tempo do mundo. O instante. Tudo o que temos e ainda assim tão grande.
Do que me lembro, os filtros de sonhos foram inventados por um povo cujos homens haviam precisado ir à guerra. Ficaram mulheres e crianças, e estas últimas tinham se acostumado a ver os homens adultos protegendo todo o grupo dos riscos. Riscos das feras, dos malfeitores, das energias, das forças naturais.
Amedrontadas, as crianças começaram a ter pesadelos à noite e viam invisíveis. As mulheres adultas, cujo trabalho para a proteção dos riscos vinha preferindo ficar mais nas brumas, teceram uma proteção. E tecer é coisa de deusas.
Teceram fios com fibras naturais, nas cores preparadas da madeira, das folhas, das flores, das pedras, da Terra. E entreteceram esses fios, como teias, em círculos feitos com uns cipós. Então, explicaram aos rebentos que, postos nas portas, esses recém-nomeados filtros de sonhos não mais permitiriam a entrada das forças assustadoras. As energias benéficas saberiam o caminho de passar, pelo centro do filtro. As demais energias se esbateriam na teia.
Engraçado, os hebreus fizeram coisa parecida no Egito, quando protegeram seus primogênitos com sangue de cordeiro aspergido nos umbrais. Penélope também teceu para esperar seu amado.
Todas as fendas precisam ter suas chaves. Filtros de sonhos são manifestações universais.

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