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Macaco para o breakfast

Written By Ana Claudia Gomes on sexta-feira, 21 de outubro de 2016 | 15:08


Rio Guaporé visto em Pimenteiras, Rondônia. Foto Tarjana Bezz.

Foi numa dessas levadas da sorte que fui parar bem no meio da floresta amazônica. Em vila operária com magníficas casas de madeira envernizada. Portas e janelas brancas. Onde nos conduziram meus pais.
Mal chegada, uns amigos de meu pai convidaram para uma caçada. Imaginei caçada eu. Noite inteira no meio da selva.
Foram explicando que eu dormiria em rede no alto da árvore. Que seria içada até lá. E cercada de companheiras. De modo que nenhum perigo chegaria até mim.
Não faço ideia de por que. Vi-me atravessando um daqueles rios amazônicos. Cuja margem fica além do olhar. Numa igara a um dedo de ser inundada. Eu coração na boca. De mim diante homem calmo a remar. E no meio de tão espessa floresta as trilhas se seguiam sem sol.
Era tardinha. Chegávamos para montar acampamento. Fui logo içada.
No alto na rede que sons e que céu. Uma noite inteira. Nenhuma luz humana à vista. Dessas insônias que valem uma vida.
Dizem que pra descer todo santo ajuda. Não é bem assim não. Mas o estômago reclamava. Terá sido um jacaré. Uma ave. Uma cobra. Tudo isso eu já comera de bom das caçadas dos amigos de meu pai.
Cheguei a cara deles era muito boa não. Ih. Disse um à guisa de bom dia. Só capturamos um magro macaco.
Sentamos à roda da fogueira. Mesmo suando em bicas. Um bom café. Uma carne escura e fibrosa. Não sei se um chefe de cozinha encara.
Dizem que pra voltar sempre parece mais perto. Nem sempre. Todos íamos silenciosos. Melancólicos a olhar a verde margem. Que nunca se achegava ao olhar. Respeitosos de nossos líderes. Homens pioneiros. Mas sonhávamos o lanche da manhã. Ao menos o almoço.
O sol ia alto. Calor quarentava. Atravessamos a desértica faixa da floresta até a vila.
Tive o privilégio de meu tradicional café-da-manhã. Sabem bem meus amigos que é uma orgia. Mesmo que o almoço de minha mãe já espalhasse seu oloroso incenso pela casa. Depois também almocei fazer o que. Era frango com quiabo.
Olha. Um dia é do caçador. O outro também. Só que uns dias é macaco.
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