Tarde de Fidel

Written By Ana Claudia Gomes on sábado, 26 de novembro de 2016 | 15:43


Morreu Fidel Castro. Para mim uma figura importante. E para os que acompanham o mundo da política, não como único interesse. Mas para quem é assim. Tem seus hobbies. Tem sua família. Tem seu trabalho. E também acompanha várias esferas da discussão cultural. Tendo assim uma vida pública. Onde pensa sobre os interesses coletivos.
Eu acho que o Brasil agora. Por interesse coletivo. Devia apertar os cintos. Porque a vida econômica do país vai arrochar. Isso foi discutido antes na arena pública. No Congresso Nacional. Onde estão representados os principais grupos de interesses do Brasil. Sendo que os grupos de interesses poderosos investem em propaganda para obter votos aos deputados e senadores.
Pois então. O Congresso achou que bastava de política social-democrata. E que era hora de parar de ajudar os pobres. E garantir o enriquecimento dos ricos.
Uma lógica já conhecida no Brasil como parar de dividir o bolo. Colocar outro para crescer. Para depois dividir de novo. Se não tiver outro jeito.
Quem acompanha já sabia o que ia acontecer no dia em que aconteceu essa nova deposição de governante no Brasil. Uma mulher assim comunista vocês me entendem.
Agora venciam os liberais. Portanto ia aumentar a concentração de renda. Uns seres especialmente dotados de sorte nesses momentos de interesse geral. Iriam ficar milionários. Geralmente a sorte tem a ver com o QI. O Quem Indica.
Mas a maioria de nós deve conter o consumo. Como estratégia para sobreviver ao discurso da crise. Já que isso é dado como crise a fim de que nos conformemos. Mas foi uma escolha de gestão na arena pública.
Estou preocupada com essas coisas do Brasil. Mas preciso estudar um pouco de África. De africanos. De afrodescendentes nas Américas. Por causa do meu trabalho. Eu dou aulas e preciso refletir metodológica e didaticamente sobre esses temas.
Então morre Fidel. Eu acho que a morte de Fidel puxou minhas reflexões de novo para a arena pública. Dei só uma passeada em rede social. 
Gente que o ama fala. Gente que o odeia fala. E tem gente que nada fala. Ele é importante para três grandes grupos de interesses que atuam na esfera pública ligada ao Estado. Os comunistas. Os social-democratas. E os liberais.
Mas não posso estudar sobre Fidel esta tarde. Estou ocupada com um dilema. Se devemos como eu agora. Concentrar-me a pensar sobre a consciência negra no Brasil. 
Dou aula sobre consciência negra. Mas também sobre consciência humanitária. E planetária. E morreu Fidel.
Não era afrodescendente Fidel? Um homem maravilhoso de lindo ao menos em minha opinião. O Che também era. Diz que Hitler usava aquele figurino ridículo durante o nazismo para dirigir-se ao público feminino. Tinha a ver com a moda. Hoje é que achamos feio. Mas talvez Fidel e Che também se tenham valido de suas lindas figuras. Feito moda. Bótons. Camisas. Umas fotos maravilhosas de perfil.
Fidel combateu Che. Não foram fraternos entre si estes dois astros. Eles tinham opiniões diferentes. Seria bom se pudessem conviver todos os homo sapiens apesar de suas opiniões. Pois opiniões são opiniões. A gente pode até mudá-las.
Ambos Che e Fidel foram lindos até o fim de suas vidas. Vida breve para Che. Longeva para Fidel. Vi Fidel velhinho enviando um carinhoso beijo. Li que sobreviveu a mais de seiscentas tentativas de assassinato né. Quem o odiava? Pergunta necessária de fazer.
Os críticos de Fidel acham que todos os políticos que desejam promover a igualdade na distribuição da riqueza tendem a virar ditadores. Acham isso até de Lula.
A morte de Fidel me emociona por causa de eu desejar esse tipo de igualdade para todos os povos da Terra. Fidel era um símbolo desse desejo. Ele tinha tentado um caminho.
Era vamos dizer um representante étnico do povo cubano. O povo assim povão. Como o Lula era no no Brasil. Ainda sendo para um grande número de brasileiros. Pode até ganhar eleições.
Como Lula no Brasil. Fidel não agradava a todos em Cuba. Tinha bastante gente que arriscava a vida para fugir de lá. Houve comemoração de cubanos exilados nos States.
Nenhum governo agrada a todos simultaneamente. Sempre alguém tá perdendo. Ou sempre pode estar alguém olhando aquela pessoa que governa como alguém que não representa seus valores. Sua concepção de mundo. Machado de Assis ensina que para o governo ser imperfeito. Basta existir. Por isso é importante que o povo governado possa falar.
Desde que sob Fidel. Eu não tenho muita informação sobre a fala do povo cubano. Por isso hoje eu bem que queria estudar Cuba. Não posso.
Assim, numa rápida olhada. Assim só concedida porque Fidel era afrodescendente. Isto é. Ele tinha componentes de África em sua cultura. Assim muito fortes. Memoráveis. Pessoa do tipo que às vezes, aqui nas Américas, tenta desconcentrar a renda. Para que todos participem mais da riqueza do país. Vi que houve imperfeições no governo de Fidel. 
Mas ao morrer Fidel foi apresentado por jornais ora como ditador ora como herói nacional. Líder da revolução cubana. Ex-líder da revolução cubana. Ex-guerrilheiro. Por várias manchetes no mundo. Então se vê que era um homem polêmico.
Puseram em fotos Fidel jovem. Realmente um guapo moreno. Afrodescendente. Só por isso faço um intervalo no plano de aula.
Sobreviveu meio século como presidente de um povo que tentava resistir ao capitalismo. Um povo fortemente afrodescendente. Cercado de capitalismo por todos os lados. Alguém me lembre por favor se há mais algum país que não esteja se compreendendo como capitalista. Além de Cuba ou Coreia. Hoje não posso estudar esse assunto.
Olha. 
Se essa utopia da igualdade der certo em algum lugar do mundo. Mesmo pequenino. É como uma bomba atômica no meio do sistema. Mais gente vai ousar sonhar com igualdade.
Porém parece que para haver igualdade. A liberdade de pensamento e expressão diminui. Também diminui o ritmo do crescimento econômico do país. Porque os países capitalistas em volta não querem que dê certo a igualdade. Eles combatem politicamente os igualitários. E apontam neles seus reais traços de ditadores.
Também há o próprio dilema de conciliar liberdade com igualdade em todo o mundo simultaneamente. Um país pode consegui-lo. Mas no mundo todo nunca conseguimos.
Há ditadores pra todo lado no mundo pelo que sei. Nem todo ditador combate o capitalismo. Alguns são úteis a ele. Sobre alguns há unanimidade serem ditadores. Hitler. Stalin. Mao. Mas como terá sido para seu povo sua morte? Uma pergunta. Sei pelo cinema que muitos choraram Stalin. Não me lembro se choraram Hitler. Vi bastante gente dizendo hasta la vista Comandante.
São perguntas também, para a memória e a história responderem com mais calma. O que trouxe de bom ou de ruim para o povo cubano o governo do presidente Fidel. Como ele terá conseguido ficar no poder meio século. Como a rainha Elizabeth I da Inglaterra e da Irlanda.
Dizem que era uma rainha absolutista. Parece que foi amada por seu povo. Terá sido isso propaganda? E Fidel. Como será que é visto pela maioria de seu povo.
Será legítimo que uma mesma pessoa governe ininterruptamente por meio século? Fidel ou Elizabeth? Como é que se mede o bem e o mal?
Vamos procurar ver como está Cuba. Vamos pesquisar dados independentes. E vamos julgar com nossos valores. Ou de classe. Ou de raça. Ou de gênero. Mas não vamos desprezar se havia liberdade de pensamento e expressão.
Olha. Eu bem quero saber como se sentem as mulheres de Cuba e do mundo em relação a Fidel. Isso é muito importante. Também quero saber como se sentem os negros de Cuba e do mundo a respeito de Fidel. Os índios. Os jovens. Os pobres. Os ricos.
Exceto quem não se interessa pela esfera da política. Dessas opiniões a gente deve não esquecer que é uma importante parte da sociedade. É conservadora. Acredita que mudanças políticas não fazem diferença. Pois sempre haverá desordem no mundo.
São distópicas. Isto é. Não têm utopias. Não acreditam que o mundo humano possa ser melhor. Acham que é um mundo onde se sofre para haver recompensa depois da morte.
Eu sou otimista sobre o mundo humano. Eu tenho como utopia que a gente trabalhe para um mundo que não corra. Então não haja ninguém muito rico como pessoa. Haja gente que cuide mais da sua casa habitação individual. Mas do mesmo jeito de sua casa planeta.
Então eu acho que a gente precisa reduzir os bens e as posses. Observar bem os tipos humanos sobre a Terra que estejam vivendo bem. Sem produzir muito lixo. Por entre as árvores e a volta de água limpa.
Imagina. Eu acho que a gente deve ter sonhos como o de Sebastião Salgado. Que reflorestou a fazenda de sua família. Com o bioma natural a Mata Atlântica. E a entregou para visitação pública.
Devemos buscar um ritmo que permita não devorar as árvores. Nem canalizar os rios.
Como será a produção de lixo em Cuba. Qual será o impacto ambiental nas cidades. Como estará vivendo seu povo. A maioria de seu povo já que o objetivo era mais igualdade. O povo tem seguranças mínimas? Alimentos, boa saúde. Boa habitação. Lugar agradável. Com árvores. Com pouco impacto na natureza. Poucas pessoas muito ricas. Pois sou contra haver pessoas muito ricas. Acho suspeitas as pessoas que têm muitas casas.
Os cubanos falam livremente? Seus artistas e intelectuais?
Entretanto parece que alguns de nós humanos gostam da possibilidade de que alguns possam ser muito ricos. Não precisem nem trabalhar. Uma galera sonha atravessar esse fundo de agulha. 
Só acho que não podem ser muitos. Para que não haja ninguém vivendo sem dignidade.
Desejo um mundo em que cada pessoa tenha sua pequena e gostosa casa. Grande só se for coletiva. Coletivamente gerida. E com baixo impacto ambiental.
Vamos dizer que a minha utopia é a de Sebastião Salgado. Que não tenhamos populações escravizadas pela vontade de ficar rico. Como em Serra Pelada. Que não tenhamos populações sendo dizimadas ou expulsas de sua terra ancestral. Como os judeus, os tutsis ou os guarani kaiowá.
Mas eu também tenho a utopia de que nesse mundo as pessoas possam pensar e falar o que queiram.
Com a morte de Fidel a pergunta que emerge é. Haverá uma equação política para os graus de igualdade e de liberdade em todo o nosso planeta? Simultaneamente? É possível um mundo melhor afinal?
Ou só uns sobreviventes depois da morte do planeta vão tentar recuperá-lo. Como vemos no cinema?
E a fraternidade. Poderemos ter um planeta inteiro em que todo humano fêmea ou macho. Não importa os múltiplos gêneros. Olhe o seu semelhante homo sapiens sempre assim. É um meu irmão. Devo preservar sua vida.
Ou já desistimos de um mundo fraterno. Achamos que é da condição humana sermos violentos entre nós.
Freud teria dito que só devemos desconfiar de quem a ninguém ama e não trabalha. Mesmo esses há jeito de tratar como irmãos.
Então deixemos de brincar nas inflexões. Mesmo se sonharmos com liberdade e igualdade. Assim todo mundo poder comer bem. Morar gostosamente. Trabalhar as horas necessárias para modestamente viver. Eventualmente pode até acontecer de alguém ficar muito rico. Mas não pode custar a dignidade de nenhuma criança. Ou a livre palavra de qualquer pessoa.
Fidel disse um dia que milhões de crianças estariam morrendo no mundo naquele dia. Mas nenhuma seria cubana.
A gente devia procurar saber. Onde as crianças estão em segurança. Também onde as mulheres estão. E ainda os homens. De qualquer gênero.
Assim um mapa mundi das crianças em segurança. E um mapa mundi dos humanos em segurança. E um mapa mundi dos biomas em segurança. Lugares que a gente devia visitar mais. Pra saber em que condições precisa viver o homo sapiens para cuidar bem de sua casa planeta.
E ainda centrar forças nos lugares onde as crianças, as mulheres, os homens estejam morrendo acima do nível vegetativo. Erradicar os genocídios. E por causa do plano de aula eu peço o fim do genocídio de jovens negros no Brasil.
Fidel morreu. Ele nos lembra que nossos matemáticos ainda não equacionaram igualdade com liberdade. Pode ser que alguns cubanos e alguns não cubanos lhe tenham Fidelidade pelo que ele tentou. Apesar do preço.
Mas havendo a palavra. Até mesmo a utopia da fraternidade fica como programa para um mundo melhor.
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