Sobre adolescências

Written By Ana Claudia Gomes on terça-feira, 8 de maio de 2018 | 19:36

Esta imagem é uma representação da realidade, para fins didáticos...


Tem umas aprendizagens que a gente nunca esquece. Assim como o primeiro sutiã ou a primeira tela de cinema. São as aprendizagens para sempre aplicadas à vida, diferentemente daquelas feitas para tirar notão na prova.
Hoje eu quero me remeter a uma aprendizagem sobre adolescências. Li de uma pesquisadora de universidade. Fera, a mulher. Não apenas discursou sobre adolescências, como foi até uma escola de morro e tirou seus muros. Depois de fazer entrarem pelo portão as artes, os esportes, as tecnologias, os trabalhos manuais. De reformular sem disciplinas os trabalhos de pensar. E de fazer saírem pelo portão os próprios alunos, para o mundo: os museus, os estádios, as praças, os mercados, as ruas, inclusive o próprio entorno.
Disse então a mulher, com empiria por detrás de si, que um grande mal dos adultos é não pensarem sobre adolescências. Pois já que criamos essa faixa de idade, por que é que nos acovardamos? Por que é que jogamos toda a farinha no mesmo saco e a chamamos de aborrescência?
De onde sei falar mais ou menos, não tão bem como a pesquisadora de universidade, é de escolas públicas em comunidades. Praticamente a única política pública de formação nas adolescências. As outras são para vigiar, punir e tentar remediar, depois do leite derramado.
Ora, é cair na adolescência, que a menina e o menino caem no vazio. Perdem os professores paternais, com todo o tempo do mundo. Perdem a linguagem infantil, ivo viu a uva. Também perdem os murais coloridos, as florezinhas, o abecedário, as datas comemorativas. Umas infâncias estilizadas, artificiais, mas infâncias. E, de repente, por ordem da eledebê, estão diante de trocentas autoridades, cada uma enviando sinais de fumaça numa direção. Sem tempo para pensar em conjunto, na faina diária dos papeis, ora substituídos por sistemas de noves fora zero.
Não é para culpar os adultos que eu repito as palavras da fera mulher. É para humildemente pedir que se debrucem sobre as adolescências. Que lhes saiam pequenas faíscas pelas orelhas, de pensar que idade é essa e o que podemos crescer com ela, ao invés de simplesmente dizer que nada quer com a dureza. Pois ela sabe a dureza de dormir no chão, de assistir a mortes em casa, de esperar roncando a refeição da escola.
Não tem pessoa que não aprenda. Pois se tá viva... Se não aprende nossos assuntos de redoma escolar, aprende uma com a outra, mas ficam lacunas. As nossas, do dever de amparar e desenvolver as jovens gerações, para além do que podem fazer por si mesmas.
Não é o nosso futuro que está em jogo. É o momento presente mesmo, pois ali, fora dos muros, um homem potente alicia o menino.
De uma outra vez, quando escrevi boas-vindas às prefeitas e aos prefeitos municipais, os que gerenciam políticas educacionais para infâncias e adolescências, eu felizmente disse. Disse que desde o estatuto da criança e do adolescente, nós avançamos um cadinho com as crianças. Ao menos lhes demos educação infantil em unidades lindinhas e com muita gente sensível. Isso faz muita diferença. Já vi menina que depois de estar no abrigo, passou a receber atenção direita da família.
Agora, com adolescências, a gente estava e continua muito fraca. São trabalhosas, rebeldes, desconhecidas. E é desconhecido de nós que aceitam muito bem um afeto.
Não custa repetir ad infinitum para ouvidos moucos. Pouco se me dá. Senão, não faria jus à minha funda aprendizagem, eu que também fui adolescente abestalhada diante de uma expressão com incógnita.
O que importa é dizer de trombone que as escolas precisam de desenhos adolescentes. De letras e de músicas adolescentes. De temas e teoremas adolescentes. De jogos digitais juvenis. De adolescências.
Colé, fessora. Hasta la vista!

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