Home » » Notas para a história da vida cultural em Betim

Notas para a história da vida cultural em Betim

Written By Ana Claudia Gomes on segunda-feira, 28 de maio de 2018 | 07:47


Os registros sobre a vida cultural em Betim são escassos para períodos anteriores ao século XX, exceto quanto à vida religiosa. Esta, predominantemente articulada ao catolicismo, foi intensa e bastante bem registrada. Graças a isso, preservaram-se os primeiros registros relativos à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e a suas atividades desde 1814.
Embora não haja registros sistemáticos ainda, sabemos que as folias de reis também eram importantes manifestações, queridas e lembradas pela população. A Folia de Reis de Santo Afonso, uma das primeiras a ser estudada na cidade, remonta a 1920.
Nas primeiras décadas do século XX, a cidade já contava com uma vida cultural mais secular, a exemplo de salas de cinema, sendo a primeira delas mantida por Thiers do Bom Conselho, na atual Rua Dr. Gravatá, e a mais importante delas, localizada na atual Praça Tiradentes, foi mantida pela família Marcelino até as últimas décadas do século XX. O cinema constituía uma efervescência em seu entorno, enquanto se esperavam as sessões, promovendo o encontro entre os jovens.
Em meados do século XX, na atual região central da cidade, a vida cultural estava muito articulada a dois tradicionais clubes desportivos e sociais: o Industrial e o Vera Cruz. Estes mantinham sedes no centro e promoviam concorridos bailes, além de movimentarem a população, dividindo-a em torcidas para os times de futebol, ativos e importantes até a atualidade.
Também o carnaval foi uma importante manifestação cultural em Betim, entre as décadas de 70 e 90, especialmente na configuração dos blocos carnavalescos e das escolas de samba. O primeiro concurso de escolas de samba em Betim aconteceu em 1977, tendo como participantes os times Industrial, Democrata, Sete e São Cristóvão, e a Escola Raul Saraiva. O Sete sagrou-se campeão. Nos próximos concursos, foram campeões: Capela Nova (1978), Sete (1980), Cartolas (1981), Arco-Íris (1982), Capela Nova (1987) e Sete (1990).
Os núcleos carnavalescos pioneiros, também os primeiros a se organizarem em escolas de samba, foram Os Cartolas, os Unidos do Samba Sete, os Unidos de Citrolândia e a Arco-Íris. Já no final dos anos 70, estes grupos movimentavam, por iniciativa própria, o carnaval da cidade.
O bloco carnavalesco mais tradicional da cidade é o Virgens do Rodô, fundado por sócios do Clube Atlético Rodoviário, também um dos pioneiros do município. Criado em 1984 e ativo desde então, o bloco explora o humor através do desfile de homens vestidos de mulheres.
Um importante lugar de cultura em Betim, em meados do século XX, foi a então Colônia Santa Izabel. Fundada nos anos 1930 para segregar pessoas atingidas pela hanseníase, estas ali articularam importantes manifestações culturais, também estimuladas pela concepção urbanística da colônia e pelos equipamentos públicos disponíveis. A vivência da música, do teatro e do cinema no Cine Teatro Glória é muito lembrada. Clubes de futebol também ali se desenvolveram, assim como despontaram na colônia importantes artistas plásticos e compositores.
O Coral Tangarás de Santa Izabel é o mais antigo grupo cultural da colônia ainda ativo. Fundado em 1936 e ligado à Paróquia de Santa Izabel, começou como uma iniciativa do Frei Chico (Francisco Van Der Poel), possuindo hoje fortes raízes comunitárias. O coral mantém uma média de 40 cantores entre 16 e 70 anos e possui um acervo de cerca de 200 partituras, entre elas várias compostas por compositores da própria colônia, além dos instrumentos que o acompanham.
Um dos mais importantes e antigos grupos culturais da cidade tem sido a Corporação Musical Nossa Senhora do Carmo, tradicional banda de música, fundada em 1903. Passando por importantes mudanças conceituais ao longo do último século, a banda continua abrilhantando os principais eventos públicos no município e é fartamente premiada nos encontros de grupos afins em diversas regiões de Minas Gerais e do país.
Há cerca de 50 anos, surgem os dois principais centros de cultura privados radicados no município: o Salão do Encontro e a Missão Ramacrisna. Implantados nas comunidades da Regional Norte e da Regional Vianópolis, respectivamente, têm ali desenvolvido importantes atividades de articulação e formação das comunidades. Ambos alcançaram projeção internacional.
A partir dos anos 80, a Prefeitura Municipal começa a desenvolver políticas públicas na área da cultura. É criada a Fundação Artístico Cultural de Betim e seu primeiro centro cultural, a Casa da Cultura Josephina Bento. Ao longo dos anos 90 e 2000, a Funarbe expande suas ações no território municipal, mantendo atualmente onze centros culturais, entre bibliotecas e centros de formação e de memória. É também nesse momento que a cidade cresce demograficamente e diferentes grupos e manifestações culturais ganham visibilidade. Surgem, por exemplo, o Coral da Casa da Cultura (1988) e depois o Coral Canto Livre, a Associação Betinense de Letras (1986) e a Companhia de Dança Para-folclórica Capela Nova (1991). A importante atividade de produção artesanal da cidade é organizada em feiras, uma política ainda descontínua, mas bastante visível na cidade nas últimas décadas. Emergem as grandes festas populares organizadas pela Prefeitura Municipal, a exemplo do Betim Rural e da Feira da Paz. Multiplicam-se casas noturnas, bares e centros culturais privados, onde a cidade vive a sua sociabilidade.
SHARE

0 comentários :

Postar um comentário