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Osório Braga: personalidades, belezas, vilezas

Written By Ana Claudia Gomes on domingo, 20 de maio de 2018 | 08:33


Osório de Oliveira Braga nasceu em Capela Nova do Betim, a 25 de maio de 1878 (ou 1879), filho de José de Souza Braga e Rita Cássia de Oliveira. Foi batizado pelo vigário Domingos Cândido da Silveira, a quem iria substituir no pastoreio católico da cidade, décadas mais tarde.

Após a realização dos primeiros estudos no distrito natal, Osório Braga se dirigiu ao Colégio do Caraça, onde estudou durante quatro anos. O Colégio do Caraça era uma instituição religiosa, dos então chamados Padres Lazaristas, de muito prestígio. Ali estudou a fina flor das elites religiosas e seculares mineiras de meados do século XIX a meados do século seguinte.
Esse período de sua vida foi extremamente marcante em sua existência, produzindo recordações e mesmo o desejo de retornar ao Caraça para passar ali o seu jubileu, o que não chegou a acontecer devido a suas ligações com a cidade de Betim. Jubileu é a festa religiosa católica que marca períodos de vinte e cinco anos.
Em seu período no Caraça, Osório foi colega de turma de Melo Viana e de Afonso Pena, além do Padre Luis Gonzaga Boavida, do qual se tornou auxiliar, como comentou em entrevista ao Jornal “O Diário”, de 9 de abril de 1961, página 6: “Ajudei o Padre Boavida em suas obras de arte, tocando para ele o torno. Depois ia ao seu quarto para receber meu soldo diário, as gostosas castanhas”.
Desse período também ficaram as lembranças de momentos difíceis, como quando contraiu a febre beribéri, que assolou o Caraça durante anos.
Em outubro de 1895, Osório Braga entrou para o seminário de Mariana, onde recebeu a tonsura a 12 de abril de 1898, as ordens menores a 25 de fevereiro de 1899, o subdiaconato a 22 de dezembro de 1900, e o presbiterato a 9 de abril de 1901, ano em que também assumiu a paróquia na sua cidade natal.
Em Mariana, Padre Osório sentiu a influência do carismático Dom Silvério, Arcebispo da cidade, de quem recebeu a ordenação sacerdotal e se colocava como discípulo.
Sobre o famoso “Bispo Negro”, que morreu membro da Academia Brasileira de Letras, Padre Osório chegou a dizer: 

“Era uma das glórias do Episcopado nacional, um sábio e um santo que realizou por si mesmo. Logo após a minha ordenação, veio aqui, em visita pastoral. Com o entusiasmo dos meus vinte e dois anos, saudei-o elogiando-lhe a santidade do apostolado. Após o discurso, disse ele: ‘Padre, peça a Deus perdão por tanta mentira’”. (Jornal O Diário, 09/04/61).

A principal característica da trajetória do Padre Osório, seu gosto pela política, só apareceriam em 1920, após a morte do ex-vigário Domingos Cândido da Silveira.
Enquanto este viveu, Padre Osório se manteve distante dos negócios políticos, em respeito a pessoa de seu antecessor, que no final da vida demonstrava profundo rancor pela política, onde amargou sucessivos fracassos. 
Padre Domingos, que lutou pela localização da sede municipal da então Capela Nova e não em Santa Quitéria, deixou o paroquiato em 1901, para lançar sua candidatura à vereança. perdendo para o Mestre Pedro, por 153 contra 3 votos. No ano seguinte, recebeu 4 votos de Capela Nova na luta pelo Senado. 
Desgostoso, Padre Domingos Cândido da Silveira procurou convencer o seu afilhado, Padre Osório, a se manter distante da política, o que conseguiu em vida. Após sua morte, no entanto, Padre Osório realizou a vocação de sua escolha, exercendo a vereança, presidindo o diretório político e exercendo o cargo de Inspetor escolar.
A importância do vigário Osório Braga na história política de Betim aparece na influência de sua pessoa sobre os destinos políticos da cidade e principalmente sobre a opinião pública. Ele se orgulhava por conseguir eleger candidatos que buscavam seu inestimável apoio político. Devido à sua interferência, conseguiram vitória esmagadora no eleitorado da cidade candidatos como Júlio Prestes, Milton Campos, Pedro Aleixo, Gabriel Passos, Jânio Quadros, Magalhães Pinto, além de políticos locais, como Sílvio Lobo, César Fonseca e Divino Braga.
A astúcia de Osório foi um elemento importante na emancipação de Betim. Segundo história contada pelo ex-prefeito Divino Braga, no dia da festa da padroeira Nossa Senhora do Carmo, Padre Osório ficou sabendo que o então governador Benedicto Valladares, passaria pela cidade antes da procissão.
Imediatamente, o vigário mobilizou uma grande multidão para saudar o visitante e solicitar a inclusão de Capela Nova na reforma administrativa. A manifestação efusiva e a longa oração do vigário convenceram o governador (Fonseca, 1975, p. 105 e 106). Essa reforma administrativa previa o desmembramento de grandes municípios mineiros e, obviamente, as pressões locais por emancipação foram consideradas pelo governador em todo o estado.
Quando da solenidade de instalação do município e comarca, coube ao padre a condição de orador oficial. Um monumento a este momento, de formato fálico, em pedra retirada das pedreiras do rio Betim, como o pirulito da Praça Sete, em Belo Horizonte, está na Avenida Governador Valadares, em confluência com a Avenida Amazonas.
Mas até a sua morte, o Padre Osório conservou também a lembrança de conflitos e derrotas causadas pela política. O episódio mais contundente ocorreu quando partidários de Washington Luís se revoltaram contra ele, chegando a formalizar ameaças de morte. No dia da deposição de Washington Luís, de madrugada, homens e mulheres se dirigiram revoltados à casa do vigário, gritando “morra Padre Osório” e desferindo tiros de espingarda, que acertaram a janela do quarto do religioso.
Em 1932, conflitos políticos obrigaram o vigário a fugir da cidade, sendo encontrado pela milícia comandada por Anastácio Franco, seu rival político. Este, no entanto, decidiu pela sua libertação, justificando: “A fuga é humilhação bastante para um homem. Prendê-lo e execrá-lo perante seus amigos e fiéis, isto jamais consentirei”.
Descrito pelos fiéis como bondoso e dedicado, em política padre Osório revelava um temperamento forte, muitas vezes intolerante, vendo naqueles que discordavam de suas idéias políticas adversários a serem derrotados de maneira implacável.
No plano religioso, seu paroquiato durou setenta e sete anos, até sua morte em 1968. Percorria sua freguesia a princípio a cavalo, às vezes mesmo a pé, indo até Engenho Seco, Sarzedo, Vianópolis e Santo Afonso.
Seus últimos anos de pastoreio foram marcados pela construção da nova matriz da cidade. Na verdade, Padre Osório não desejava a construção da nova igreja, tendo sido convencido por Francisco Gomes do Prado, em janeiro de 1957, quando dirigiu a reunião que escolheu a diretoria responsável pela construção da nova matriz.
Padre Ozório era, no entanto, contrário à destruição da antiga matriz. As duas posições se mostraram inconciliáveis, já que as obras de construção esgotaram as verbas que deveriam ser destinadas à recuperação da igreja antiga. Os partidários da construção da nova matriz defenderam a obra dizendo que o novo prédio seria moderno e arrojado, sóbrio e acomodaria confortavelmente um público de até 2.200 fiéis. As noções de conservar monumentos antigos como patrimônio cultural eram incipientes e insuficientes para sustentar a manutenção da igreja antiga.
 Na opinião do historiador Geraldo Fonseca, a demolição da antiga matriz foi comandada por elementos que não tinham laços de origem em Betim. O conflito seria na verdade travado entre os filhos da cidade e os forasteiros que quando chegam no novo domicílio espalham “verdadeira campanha mudancista”. O forasteiro, “de verbo fácil, conquista adeptos e dentro em pouco passa a compor os escalões legislativos e administrativos, (...) e seu afã, com raríssimas exceções, é demolir o velho que existe em seus novos domicílios” (Fonseca, 1975, p. 173).
É preciso lembrar que a opinião de Fonseca não pode ser separada do fato de que escrevia a história de Betim sob contrato da Prefeitura local, num mandato em que o Prefeito era representante da elites originárias de Betim.
Padre Ozório teria lutado inutilmente pela demolição. Sua imagem, de todo jeito, ficou associada à da antiga matriz, graças à construção de um busto em sua homenagem na praça da igreja destruída, por decisão da Câmara Municipal, em 25 de setembro de 1967.
Pouco depois, em 18 de maio de 1968, o vigário encontrou a morte, sendo enterrado com a presença de centenas de fiéis e admiradores. Posteriormente, a própria matriz foi lembrada por um grande monumento contemporâneo, na atual Praça Miltom Campos, e o busto do Padre ficou quase invisível. Grupos religiosos tradicionais, como o Reinado de Nossa Senhora do Rosário do Angola, reverenciam, em suas procissões, o ícone dedicado a Padre.
Durante a vida, Ozório Braga recebeu as honras de Monsenhor Camareiro Secreto de sua Santidade, o Papa Paulo VI.
A morte de Padre Osório pode ser tomada como mais um marco da nova modernização de Betim, ocorrida em grande vaga nos anos sessenta do século passado.


Pesquisa de Adriana de Araújo Lisboa.

Referências.

Assis, Terezinha. A História da Construção de Betim. Betim: SEGRAC, 1997.

CARTA DE OURO PRETO. Ouro Preto, 1992 (mimeografado).

Fonseca, Geraldo. A Nova Força de Minas. Betim, sua História: 1911/1975. Betim, 1975.

Fonte da imagem: IMPHIC.


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