Sabe como é módulo-aula. Muitas vezes o tempo acaba antes
que se concluam as ideias. E muito estudante se acerca da professora para
subverter o fim dos tempos.
Foi em tal contexto que me chegou uma menina, rodeada de
seus colegas da tribo do saber. Menina bela, corpo são, mente sã e liberdade de
gênero.
– Professora – o cenho franzido – mas será que acontecem
coisas boas em ditaduras?
Mandei parar meu coração, que gritava. É preciso outro
módulo-aula. Fiz-me voltar no tempo, até uma brilhante professora e sua aula de
política como ciência. Que tive em minha juventude.
– Sim. Acontecem coisas boas em ditaduras. Um governante,
mesmo sendo ditador, precisa ser aceito por boa parte do povo. Se possível, a
maioria. Seja pelas obras, seja pela propaganda. Senão, você já aprendeu que acontece o uso da força.
A menina brilhou um acento de seriedade no olhar.
– Você veja. Recentemente, na ditadura militar, houve
investimentos importantes na infraestrutura do país. Mesmo que com excessivo
dinheiro emprestado do patrocinador dessa ditadura. E na era Getúlio Vargas...
– Sim, professora, os direitos trabalhistas, né?
– Isso. E deus nos acuda. Foram meio plagiados de Mussolini... Estes mesmos que agora podem ser perdidos... Mas
lembre-se. Em geral, esses melhoramentos estão muito mais voltados para a saúde
do nosso sistema do que para a saúde do povo. Você entende?
– Sim, professora. É para beneficiar os empresários, né?
– Então. Olha, a ditadura só é mesmo ruim, de cabo a rabo,
para quem se interessa pela liberdade.
A menina brilhou o entendimento no olhar. Sabe que sua
liberdade de gênero lhe é visceral e vale mesmo a própria vida.
Voltei ao tempo. Coração recomeçou. Haverá outros
módulos-aula.
Curioso é que isso se deu numa escola pública das quebradas.
O que me deixa encafifada. Tentando entender como pode ter gente repetindo,
feito papagaio, que a juventude brasileira não quer aprender.
Não creio que haja homo sapiens refratário a aprender. O que
precisa é achar a pegada.
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