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Conto de Natal

Written By Ana Claudia Gomes on segunda-feira, 26 de dezembro de 2016 | 04:23

Vic não ia a festas de Natal. Fazia uma pequena ceia e dedicava o tempo livre a algum livro de poesia, com ópera ao fundo. E por isso sempre ouvia as queixas de sua querida mãe.
Naquele ano, deixou de radicalismos. Prometeu-se não estressar com figurinhas repetidas. Fez em papel jornal lembrancinhas para todos. Acompanhou o pequeno sermão e a oração de mãos-dadas. Petiscou o cardápio tradicional. Recebeu as carinhosas boas-vindas de seus irmãos. Emocionou-se.
Lá pelas tantas ouviu sua jovem sobrinha. Não vejo a hora de dar ano-novo. Vic quis saber por que. Quero começar uma dieta e fazer corrida. Também quero pintar meu quarto, que não deu até agora por causa do trabalho. Vou aproveitar as férias.
E por outros tantos lugares-comuns Vic passeou. Sempre comparando a vida com alguma passagem literária. Alguma cena de cinema.
Voltou a casa decidida. Pra mim já deu. E iniciou o ano-novo logo ao dia vinte-e-seis. Com uma bela caminhada de homenagem à sobrinha.
Pesquisou itinerários nunca d'antes caminhados. Encontrou uma pequena vila de telhados duas-águas e fachadas art dèco. Entre grandes condomínios de apartamentos que principiavam a obstruir os horizontes. Cruzou com colega de trabalho e ouviu a história de um seu amigo que por ali caiu no poluído canal. Indo curar a intoxicação ao hospital. Viu que alguém plantara hibiscos. Avistou incrédula três pequenas tartarugas que tomavam sol sobre o cano do esgoto. Parou à balaustrada. Quis saber se não era miragem. E comemorou que a vida siga resistindo.
Percebeu que pouca gente caminhava. Certamente os desportistas dali dormiam até mais tarde, esperando o ano-novo.
Entrou no parque, encontrou árvore frutífera. Experimentou. Azedinha como tantas frutas do cerrado. Lamentou o monte de entulho que ali jogaram uns desavisados.
Terminava a caminhada, de volta ao canal, quando a parou velha amiga. Dessas piolho-de-academia, em seu carrão. Isso é caminhada ou passeio. Abriu largo sorriso.
Vic abriu sorriso largo em retribuição. Vislumbrou o manacá-da-serra na calçada oposta e respondeu feliz. Passeio de ano-novo.
Então feliz ano novo. Abriu os braços a inteligente amiga. Recomeçar é em qualquer data. Mas bem ajuda um bom ritual.
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